Natureza, Ciência e Religião (parte I)
Enildo Luiz Gouveia*
Em 20.08.2020
Os debates acerca da importância da natureza, dos limites do crescimento, da preservação do meio ambiente etc, tomaram notoriedade a partir do ano de 1972 quando, na Suécia, foi realizada a Conferência Mundial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Meio Ambiente. A partir daí, gradativamente as abordagens se multiplicaram e novos elementos foram acrescentados. Nesse contexto, surge uma análise que busca justamente o entendimento de como se formou em nossas mentes a ideia de natureza.
Diversos atores afirmam que a concepção que temos de natureza, concepção esta dominante na civilização ocidental, assenta-se em alguns pilares, dos quais citamos três: 1º Herança Grega; 2º Tradição Judaíco-cristã e, 3º Ciência Moderna. A herança grega diz respeito a concepção dualista da realidade que tem na formulação de Platão sobre a Teoria das Ideias sua principal base. Segundo Platão, a realidade é formada pelo Mundo Sensível (das coisas passageiras, da opinião) e pelo Mundo Inteligível (das ideias, conceitos imutáveis). Herdamos desta Teoria a visão equivocada de que tudo é dual: Alma x Corpo, Bem x Mal, Fé x Vida, Céu x Inferno, Sociedade x Natureza… Oito x Oitenta (na linguagem popular).
Da tradição judaico-cristã, influenciada também pelo platonismo, herda-se a ideia de que o Homem e a Mulher (sociedade) são diferentes e superiores ao restante da criação, pois, como dito no livro do Gênesis, são feitos a imagem e semelhança de Deus. Já da Ciência Moderna, herdamos a visão compartimentada da realidade. A Ciência Moderna dividiu a realidade em partes, em áreas de conhecimento e assim, a visão do todo ficou prejudicada.
Acrescenta-se ainda que o advento da Ciência Moderna (pós século XV) coincide com o advento do modelo capitalista de acumulação. Sendo assim, aos poucos se construiu na sociedade ocidental a visão de natureza como algo inferior, selvagem, dessacralizada e fonte de produção das riquezas. As consequências e as alternativas a esta visão serão abordadas na segunda parte deste artigo.
*Enildo Luiz Gouveia é professor do IFPE, doutor em Geografia e membro da Academia Cabense de Letras (ACL).
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