SALA DE CINEMA – Sobre a volta para o cinema e algumas boas dicas para ver em casa
Pedro H. Azevedo*
Em 23.08.2020
Na última terça-feira (18 de agosto) foi anunciado o Festival De Volta Para o Cinema. Como o nome já diz, o festival visa a reabertura das salas de cinema do Brasil e começa no dia 3 de setembro em várias cidades doPaísl. A curadoria ficou a cargo do fundador do site Omelete e da Comic Con Experience, Érico Borgo, e conta com sucessos de bilheterias dos últimos anos como “Vingadores”, “Mulher Maravilha” e “Pantera Negra”; clássicos populares como “Matrix”, “Tubarão” e “De Volta Para o Futuro”; comédias nacionais como “Minha Mãe é uma Peça” e “Até que a Sorte nos Separe”, além de outras categorias, totalizando 26 filmes que serão exibidos em mais de 1.200 salas em todo o país, com preços promocionais.
A chamada para o retorno às salas de cinema – quando os números de infectados já passa de 3 milhões e meio e nos aproximamos de 120 mil mortos pela Covid-19 e o que temos apenas é uma promessa de vacina sem data certa para sair – não parece ser a melhor das escolhas a ser tomada. Isso fica ainda mais claro quando olhamos para outras iniciativas vindas de grandes festivais nacionais.
Um exemplo é a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que iniciará apenas no fim de outubro, que se organizou para acontecer de forma online e com exibições em cinemas drive-in. Já o Festival de Cinema de Gramado vai exibir seus filmes pela TV e internet, começando no dia 18 de setembro e indo até o dia 26 do mesmo mês. As iniciativas tomadas pela administração desses festivais revelam o cuidado e precauções ao realizar qualquer tipo de evento que possa gerar aglomeração.
Vemos aí propostas diferentes entre os dois modelos de festivais, visto que o De Volta Para o Cinema é muito mais uma campanha publicitária para chamar espectadores para as salas. Ele se apresenta como um socorro financeiro para as empresas exibidoras de filmes muito mais do que um evento de celebração do cinema em si. É claro que durante essa pandemia elas estão entre as empresas mais afetadas economicamente, e que depois de quase 6 meses de parada a situação financeira não deve ser nada boa. Mas questiono-me se o retorno do funcionamento das salas seria a melhor estratégia para salvá-las da falência nesse momento. Afinal, isso exporia seus clientes e trabalhadores a uma situação em que eles correm um risco de vida.
Será que vale a pena para o espectador pagar um ingresso, entrar em uma sala fechada com dezenas ou centenas de outras pessoas para assistir a um filme (que pode facilmente ser visto em casa) em uma tela gigante, em plena pandemia e correr o risco de se contaminar para ter essa experiência?
É claro que a experiência de ver um filme na televisão ou na tela do seu notebook, tablet ou smartphone não se compara a de ver na sala de cinema, que possui qualidade de som e imagem inalcançáveis para quem está assistindo a algo em casa, mas isso não quer dizer que a experiência doméstica não é nada. A discussão sobre os “dispositivos” do cinema — a sala de cinema, a tela, o projetor — como elementos fundamentais para a experiência cinematográfica é algo totalmente válido e, pelo menos para mim, relevante, mas uma coisa é certa, um filme não se define pelo tamanho da tela ou qualidade do som. E é esse pensamento que está levando diversas organizações de festivais e mostras a realizarem seus eventos de maneira online e acessível para todos. Além dos festivais já citados anteriormente que serão realizados pela internet e televisão, desde que o isolamento social foi estabelecido, diversas mostras e festivais adotaram esse formato de realização. Nunca antes foi possível assistir a tanta coisa interessante, de forma gratuita e legal, para quem tem acesso à internet. O exemplo real pode ser visto agora em cinco eventos brasileiros que estão acontecendo nesse momento de forma remota. Nelas encontramos longas, médias e curta metragens, filmes antigos e novos, debates e lives, tudo de graça para quem quiser ver. São eles:
Mostra Expressionismo Alemão
Realizada pela Fundação Clóvis Salgado, instituição que trabalha com a criação e divulgação cultural e artística em Minas Gerais, a mostra, que começou no dia 7 de agosto e vai até o dia 8 de setembro, disponibilizou 13 filmes do expressionismo alemão ou que se relacionam de alguma forma com esse estilo, que foi um movimento cinematográfico riquíssimo que surgiu após a primeira Guerra Mundial na Alemanha e veio a influenciar como poucos todo o cinema posterior. Além dos filmes, a mostra ainda realiza lives com sessões de comentários sobre os principais filmes exibidos. Tudo no canal do Youtube deles. Destaco três filmes: “O Gabinete do Doutor Caligari”, filme que inaugura o movimento; “Nosferatu”, do lendário diretor F. W. Murnau e que influenciou profundamente o cinema de terror; “Metropolis”, obra-prima da ficção cientifica e considerado por muitos o filme do gênero mais influente de todos os tempos. Para conferir clique aqui.
Mostra On-Line Eryk Rocha
Preparada pelo Itaú Cultural (que vem mantendo uma forte programação durante esse período), a mostra exibe 5 filmes do cineasta Eryk Rocha, filho do lendário Glauber Rocha, e uma conversa entre o cineasta e o diretor e roteirista Ardiley Queirós. Entre os filmes, vale destacar o filme-ensaio “Cinema Novo”, de 2016, premiado no Festival de Cannes. O filmes estão disponíveis desde o dia 14 de agosto e ficarão disponíveis até o dia 28 do mês. Tudo pode ser visto aqui.
Festival ECRÃ
A quarta edição do festival, que acontecia no Rio de Janeiro, começou na última quinta-feira e vai até o dia 30 de agosto. O festival conta com mais de 100 obras de todo o mundo e foca na experimentação audiovisual. No festival temos longas e médias, curtas, instalações, videoartes, performances e obras para serem vistas em realidade virtual, todos disponíveis para assistir em qualquer momento durante a duração do evento. O festival ainda conta com mesas redondas, bate-papos e palestras remotas. Para conferir clique aqui.
Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo
Iniciando e finalizando nas mesmas datas do Festival ECRÃ, o Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo, na sua 31ª edição, programou mais de 200 curtas nacionais e internacionais e lives com palestras, seminários e oficinas. Os curtas e as atividades, assim como a programação do festival estão disponíveis neste link.
Festival Sesc Melhores Filmes
Feito pelo Sesc São Paulo, o 46º Festival Sesc Melhores Filmes reúne filmes dos últimos anos que foram escolhidos como os melhores via votação popular e especializada. O festival que também começou na quinta-feira, 20 de agosto, está disponibilizando alguns filmes por 24 horas, outros por uma semana, alguns outros por um mês e um em sessão única que vai acontecer hoje (domingo, 23/08 às 20h), sendo esse “um”, Bacurau, dos pernambucanos Kléber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. Para ver a seleção e as datas de disponibilização dos filmes clique aqui.
*Pedro H. Azevedo escreve e administra a página Um Toque do Cinema no Instagram. Escreve aos domingos.
Excelente abordagem.
Concordo com vc Pedro, um filme não se define pelo tamanho da tela e nem pelo som. Outros critérios precisam estar veiculados numa característica de um bom filme. Parabéns!