A Grande Muralha Verde

Por

José Ambrósio*

Em 11.09.2020

Do continente considerado berço da humanidade, mas que vem sendo espoliado há séculos, uma das razões para apresentar o menor IDH do planeta, a África – mesmo conturbada por sangrentas disputas políticas, religiosas e étnicas – vem um belo exemplo de cooperação entre nações. A Grande Muralha Verde, concebida para combater os efeitos da mudança climática e a desertificação – impedir o crescimento do Deserto do Saara – já é uma realidade para milhões de africanos dos 11 países envolvidos.

Treze anos depois do seu início, o cenário coberto pela Grande Muralha Verde revela paisagens antes degradadas já recuperadas em dimensão sem precedentes, como destaca documento da Organização das Nações Unidas (ONU).  O estudo mede a implementação da iniciativa mais ambiciosa ao longo do extremo sul do deserto do Saara, cobrindo 11 países: Burkina Faso, Chade, Djibuti, Eritreia, Etiópia, Mali, Mauritânia, Níger, Nigéria, Senegal e Sudão.

Lançada pela União Africana em 2007, a Grande Muralha Verde envolve o plantio de árvores, pastagens, vegetação e plantas diversas. A área compreende 8.000 km de comprimento e 15 km de largura. A expectativa é que depois de concluída, a Grande Muralha Verde seja a maior estrutura viva do planeta, medindo três vezes o tamanho da Grande Barreira de Corais (localizada ao largo da costa de Queensland, no nordeste da Austrália, é considerada o maior organismo vivo da terra, visível até mesmo do espaço. Mede 2.300 km de extensão).

Os estudos apontam que a restauração ambiental já recuperou 15 milhões de hectares de terras antes degradadas na Etiópia. Na Nigéria a restauração alcança cerca de 5 milhões de hectares, e no Sudão mais 2 mil hectares.

FAO/ Benedicte Kurzen

O Senegal destaca-se em relação ao total de árvores plantadas com 11,4 milhões.  Burkina Faso, Mali e Níger apoiam o cinturão verde envolvendo cerca de 120 comunidades. O Níger já plantou mais de 2 milhões de sementes e mudas a partir de 50 espécies de árvores nativas.

A ação que envolve parceria entre a União Africana, a Agência Pan-Africana da Grande Muralha Verde e outros parceiros internacionais – a Irlanda é um dos maiores financiadores -, já proporciona segurança alimentar, empregos e “uma razão para ficar para milhões de pessoas que vivem ao longo de seu caminho”, como destaca publicação da ONU.

As áreas que devem receber maior atenção são a produção alimentar, a criação de empregos e a promoção da paz.

Além disso, estima-se que até 2030 sejam absorvidas 250 milhões de toneladas de carbono e criados cerca de 10 milhões de empregos verdes.

A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (Unfccc), informalmente conhecida como Tratado da Terra, destaca que a Grande Muralha Verde simboliza a esperança do continente que sofre com a desertificação, ao restaurar 100 milhões de hectares de terra. Além disso, estima-se que até 2030 sejam absorvidas 250 milhões de toneladas de carbono e criados cerca de 10 milhões de empregos verdes.

Enquanto o cinturão verde viceja e se expande de oeste a leste (do Djibuti ao Senegal), no Brasil, o Pantanal e a Amazônia ardem em chamas e Brasília sugere não passar de ‘cortina de fumaça’ as imagens captadas diariamente e que são confirmadas e monitoradas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). E ao negar, paga verdadeiro ‘mico’ ao compartilhar campanha que inclui o mico-leão-dourado como animal da fauna amazônica para dizer que a floresta não está queimando. O mico-leão-dourado é símbolo da Mata Atlântica do Rio de Janeiro.

*José Ambrósio é jornalista e membro da Academia Cabense de Letras.

Foto destaque: FAO/Giulio Napolitano – A chamada “Grande Muralha Verde” deve ir do Djibuti ao Senegal.