JOVENS AUTORES – Identidade, linguagem e memes

Por

Beatriz Carline*

Em 11.09.2020

Se você está na internet, provavelmente já viu alguma discussão sobre variação linguística, seja biscoito ou bolacha, abóbora ou jerimum, não faltam palavras diferentes para nomear as mesmas coisas, e a internet não cansa de brigar para descobrir qual variação é a certa, seja por memes ou discussões mais acalouradas, podendo chegar até a ofensas e preconceito.

Segundo a sociolinguística, ciência que estuda as diversas manifestações da variação linguística em um idioma, não existe certou ou errado quando se trata de variantes como essas, apenas manifestações diferentes para expressar a mesma ideia. Essas diferenças citadas acima são regionais, divergem de uma região para outra no país, mas não impedem ou atrapalham a comunicação entre os falantes.

Porém por muitos anos, e até hoje, a linguagem falada no sudeste do país, especialmente no estado de São Paulo, é vista como a padrão e mais adequada e qualquer variante é vista como pobre, feia ou inadequada por algumas pessoas. O sotaque e os dialetos nordestinos são a primeira coisa que as pessoas com esse pensamento xenofóbico apontam e diminuem no intuito de humilhar e invalidar a vivência e experiência linguística dos falantes dessas variantes, o que levou muitos nordestinos a abandonarem seu sotaque para fugir da xenofobia e serem bem aceitos em alguns ambientes, principalmente profissionais. Esse preconceito chegou a internet em forma de cyberbullying e vem causando muita indisposição entre os internautas.

Em contrapartida, houve também um aumento no número de páginas de humor que utilizam memes e sátiras para ilustrar as experiências linguísticas de cada região criando uma identidade entre os falantes dessa variante, que passam a ver sua fala refletida em grandes veículos da mídia, o que era raro até pouco tempo atrás. A nível estadual, mais precisamente Recife e região metropolitana a página Recife Ordinário e a jornalista e tiktoker Ademara Barros ganham destaque nessa nova forma de identificação coletiva que vem gerando uma grande onda de orgulho pelo sotaque e dialeto falado no Recife, carinhosamente apelidado de Pernambuquês, criando um movimento contrário ao preconceito e à xenofobia.

*Beatriz Carline, 21 anos, é estudante do 7º período de Letras pela Universidade de Pernambuco (UPE) campus Mata Norte.

NOTA DO EDITOR

Com este artigo assinado por Beatriz Carline, de apenas 21 anos de idade, o blog Falou e Disse dá sequência à coluna JOVENS AUTORES. O espaço é destinado a estimular e encorajar adolescentes e jovens a compartilharem as suas ideias e os seus pontos de vista de maneira mais ampla, buscando publicar crônicas e artigos sobre os mais variados temas.

O artigo Identidade, linguagem e memes foi editado respeitando-se a íntegra do texto recebido.