Para salvar o planeta

Por

José Ambrósio*

Em 16.09.2020

“A humanidade está em uma encruzilhada em relação ao legado que irá deixar para as próximas gerações.” O alerta da secretária-executiva da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (CBD), Elizabeth Maruma Mrema, diante da publicação do 5º relatório Panorama da Biodiversidade Global (GBO-5, em inglês), ontem, descreve bem a urgência com a qual está sendo tratado o documento que aponta oito mudanças necessárias e urgentes para se garantir o bem-estar humano e salvar o planeta.

Mrema ressalta que muitas coisas boas estão acontecendo ao redor do mundo, mas, observa que a taxa de perda de biodiversidade não tem precedentes na história da humanidade e adverte para o aumento das pressões.

Ela afirma que à medida que a natureza se degrada, também surgem novas oportunidades para a disseminação de doenças, como o novo coronavírus, que segundo a pesquisa, representa um desafio para que as pessoas possam repensar sua relação com a natureza e considerar as consequências da degradação dos ecossistemas.

Ela considera que a janela do tempo disponível é curta, mas diz entender que a pandemia mostrou que “mudanças transformadoras são possíveis.”

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, concorda cm Mrema. Segundo ele, com a pandemia o mundo tem uma oportunidade sem precedentes de reconstruir melhor.

Diretora-executiva do Programa da ONU para o Meio Ambiente, Pnuma, Inger Andersen, assegura que o mundo sabe o que precisa ser feito, o que funciona e como se alcançam bons resultados.

O documento trata do progresso em relação às 20 Metas Globais de Biodiversidade, que foram acordadas em 2010 e deviam ser alcançadas até este ano. No total, seis delas foram parcialmente atingidas.

Os elementos da Meta 11, relativa às proporções de terras e mares protegidos, foram atendidos, mas a qualidade dessas áreas não foi cumprida. Sobre a Meta 19, o conhecimento sobre biodiversidade melhorou, mas não foi amplamente compartilhado ou aplicado, indica o estudo.

Em relação aos relatórios nacionais, os dados mostram que os tipos de transições necessárias estão começando. Praticamente todos os países estão tomando medidas para proteger a biodiversidade. Além disso, as taxas de desmatamento continuam caindo, a erradicação de espécies exóticas invasoras de ilhas está crescendo e a consciência sobre a biodiversidade aparentemente está aumentando, ainda de acordo com a pesquisa.

O relatório cita várias ações e programas nacionais considerados exemplares e que sem eles os resultados seriam piores, com maior número de extinções.

O financiamento para a biodiversidade também aumentou em alguns países e os recursos disponíveis para a biodiversidade provenientes de fluxos internacionais e assistência oficial ao desenvolvimento praticamente dobraram. Ao todo, estão disponíveis cerca de US$ 78 a 91 bilhões anuais.

As oito mudanças destacadas incluem transição sustentável nas áreas de agricultura, sistemas alimentares, gerenciamento de pesca e oceanos, cidades e infraestrutura, sistemas de água doce, ação climática e para uma abordagem One Health, que usa várias disciplinas para alcançar a saúde de pessoas, animais e ambiente. 

O relatório será usado para criar novas metas globais de biodiversidade para 2021-2030, que estão sendo negociadas. As novas metas devem ser consideradas na próxima Conferência sobre Mudança Climática, COP 26, que foi adiada para 2021 e deve acontecer em Kunming, na China.

*José Ambrósio é jornalista e membro da Academia Cabense de Letras.

Foto destaque: Relatório cita várias ações e programas nacionais exemplares, sem os quais os resultados seriam piores, com maior número de extinções/Pnud Mauritania/Freya Morales