A tristeza da fome no Brasil
Carlos Sinésio*
Em 22.09.2020
O Brasil é mesmo um país de gigantescas contradições. Uma semana após a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) anunciar que o nosso setor agrícola bateu recorde na produção de alimentos, na safra 2019/20200, sobretudo grãos (arroz, milho, trigo, soja, algodão, feijão), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela, após ampla pesquisa, que pelo menos 10,3 milhões de brasileiros estão, de alguma forma, passando fome. Um horror!
Todo esse contingente sobrevive sob a chamada insegurança alimentar. Isso significa que elas passam fome de verdade ou comem muito menos do que o mínimo necessário para sobreviver. Que coisa horrível, que tristeza, que absurdo inaceitável isso ocorrer em um celeiro do mundo.
A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018 – Analise da Segurança Alimentar no Brasil, do IBGE, constatou que, após recuar em mais da metade em uma década, a fome no Brasil voltou a se alastrar. O País retrocedeu, infelizmente, apesar do Bolsa Família e outros programas desenvolvidos pelos governos estaduais e municipais. Sem falar que instituições públicas, empresas e voluntários também ajudam bastante com a distribuição de alimentos nas comunidades.
Os dados divulgados pelo IBGE repercutiram não apenas internamente, mas também no exterior. Isso porque, como dizem os técnicos da área, o Brasil voltou a ser incluído no chamado Mapa da Fome mundial. Em apenas cinco anos, o número de pessoas sem acesso regular à alimentação básica aumentou em mais de 3 milhões.
Com isso, pelo menos 10,3 milhões de habitantes passam algum nível de fome, seja no grau leve, moderado ou grave. Importante destacar ainda que nessa conta estão somente os moradores em domicílios permanentes, estando excluídas do levantamento as pessoas em situação de rua. O processo de reversão desse quadro precisa começar logo. Cabe ao Governo federal conduzir esse processo, e de imediato.
Importante destacar que em Pernambuco, nesse mesmo período 2017-2018, 1.455 mil domicílios tinham algum tipo de insegurança alimentar. Ou seja, enfrentavam restrições no acesso à comida, com seus moradores passando algum tipo de fome, seja por qualidade ou quantidade de alimentos, mas na maioria das vezes pelos dois motivos.
Sobre a safra de grãos anunciada, ela começou em setembro de 2019 e acabou este mês, alcançando o número recorde de 257,8 milhões de toneladas. É um crescimento de 4,5% ou 11 milhões de toneladas em relação ao ciclo anterior, diz a Conab. É de se esperar que, produzindo tanta comida, o Brasil não permita que seus filhos passem fome, chegando muitas vezes a morrer em consequência dela.
Todos sabem que esses assuntos surgem na mídia e logo, logo somem, pois aparecem outros temas importantes para ocupar espaço nos centros de debate e nos meios de comunicação. Mas é imprescindível que as autoridades, todos os gestores públicos do País, se unam e se mobilizem para acabar com essa chaga horripilante da fome que não oferece qualquer possibilidade de dignidade ao ser humano.
Os necessitados de ajuda, os famintos brasileiros clamam por urgência, para resolver essa causa mínima de combate à fome e à miséria.
Com fome e sede, ninguém tem forças suficientes para lutar por uma vida melhor e mais digna. Os necessitados de ajuda, os famintos brasileiros clamam por urgência, para resolver essa causa mínima de combate à fome e à miséria. Que os gestores públicos se sensibilizem e não fechem os olhos para acabar com um problema que tanto nos causa vergonha.
*Carlos Sinésio é jornalista, tem 55 anos, 35 de profissão. Trabalhou nos jornais O Globo, Dario de Pernambuco e Jornal do Commercio. Foi repórter free lance no jornal O Estado de S. Paulo e na revista IstoÉ. Escreve às terças-feiras.
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