A ONU tornou o mundo um lugar melhor, indica pesquisa global
José Ambrósio dos Santos*
Em 22.09.2020
Mesmo duramente criticada e com a ocorrência de conflitos armados em várias partes do mundo, a Organização das Nações Unidas (ONU), fundada em 1945 após a Segunda Guerra Mundial para promover a cooperação internacional, celebrou 75 anos, ontem, com o reconhecimento de que desenvolve ação essencial para a humanidade. Uma pesquisa global divulgada em evento de alto nível, no hall da Assembleia Geral, em Nova Iorque, destaca que dos mais de 1 milhão de pessoas ouvidas em todo o planeta, seis em cada dez entrevistadas acreditam que a ONU tornou o mundo um lugar melhor.
Além disso, os Estados-membros aprovaram declaração segundo a qual “não há nenhuma outra organização global com a legitimidade, poder de convocação e impacto normativo das Nações Unidas”. E destaca que “nenhuma outra organização global dá esperança a tantas pessoas.”
Na abertura do encontro, o secretário-geral da ONU, António Guterres, destacou o “imenso sofrimento” enfrentando por muitos povos para que os líderes mundiais se comprometessem com a cooperação internacional e o Estado de direito. “Foram necessárias duas guerras mundiais, milhões de mortes e os horrores do Holocausto”, lembrou, afirmando que esse compromisso – a criação da ONU – produziu resultados. “Uma Terceira Guerra Mundial foi evitada e nunca, na história moderna, houve maior espaço de tempo sem um confronto militar entre as grandes potências.”
Guterres destacou ainda conquistas como tratados de paz e manutenção da paz, descolonização, padrões e mecanismos de direitos humanos, fim do apartheid, ajuda humanitária, erradicação de doenças, redução da fome, desenvolvimento do direito internacional e pactos para proteger o meio ambiente.
A abrangente pesquisa é reveladora do papel desempenhado pela ONU. Mais de 87% dos entrevistados acreditam que a cooperação global é vital para lidar com os desafios atuais, e que a pandemia tornou a cooperação internacional mais urgente. Além disso, seis em cada dez entrevistados acreditam que a ONU tornou o mundo um lugar melhor. Olhando para o futuro, 74% veem a organização como “essencial” para enfrentar os desafios.
Em todas as regiões, faixas etárias e sociais, os entrevistados concordaram com as prioridades para o futuro. A consulta revela um forte apelo à ação sobre desigualdades e mudanças climáticas, bem como mais solidariedade. Em meio à crise da Covid-19, a prioridade imediata é a melhoria de serviços básicos, como saúde, água potável, saneamento e educação, seguido por maior solidariedade internacional e maior apoio aos mais atingidos.
As principais preocupações são a crise climática e a destruição de meio ambiente. Outras prioridades incluem maior respeito pelos direitos humanos, resolução de conflitos, combate à pobreza e corrupção.
Apesar dessa visão positiva, os entrevistados desejam que a ONU mude e inove. Pedem uma organização mais inclusiva, transparente, responsável e eficaz.
Guterres considerou os resultados surpreendentes e ressaltou ser hora de responder a essas aspirações e realizar esses objetivos.
Sobre os desafios que persistem, lembrou que, dos 850 delegados na Conferência de São Francisco, onde foi fundada a ONU, apenas oito eram mulheres. Segundo ele, “a desigualdade de gênero continua sendo o maior desafio para os direitos humanos em todo o mundo.”
Ele chamou a atenção para a questão da mudança climática, o colapso da biodiversidade, o aumento da pobreza, o espalhar do ódio, o crescimento das tensões geopolíticas, a ameaça nuclear, desafios criados por novas tecnologias e a pandemia de Covid-19.
Guterres disse ainda que ninguém quer um governo mundial, mas deve-se cooperar em conjunto para melhorar a governança mundial.
É isso o que o mundo civilizado deseja.
*José Ambrósio dos Santos é jornalista e membro da Academia Cabense de Letras.
Foto destaque: Secretário-geral, António Guterres, discursou no evento que marcou os 75 anos da ONU, Foto ONU/Eskinder Debebe
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