Chefe da ONU reprova comunidade internacional no enfrentamento à Covid-19
Redação
Em 25.09.2020
Em duro discurso ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), ontem, o secretário-geral António Guterres disse que a comunidade internacional foi reprovada no teste de colaboração ao enfrentamento à pandemia do novo coronavírus. Ele destacou que a pandemia é um teste claro de cooperação e o mundo não passou nesse exame, ao falar durante discussão sobre governança global após a crise de saúde.
Para o chefe da ONU, o resultado da falta de preparação global, cooperação, unidade e solidariedade é que o novo coronavírus está fora de controle. Até esta quinta-feira, a Covid-19 havia infectado mais de 30 milhões de pessoas, causando cerca de 1 milhão de mortes.
Guterres afirmou que a “a pandemia ilustrou, indiscutivelmente, as lacunas no sistema multilateral.” Segundo ele, “enquanto os países vão em direções diferentes, o vírus vai em todas as direções.”
Para Guterres, uma abordagem racional e equitativa da vacinação reduziria as mortes, priorizando os trabalhadores da linha de frente e os mais vulneráveis. Disse que a organização “tem lutado para mobilizar os recursos necessários.”
Ele lembrou ainda a “polarização e fragmentação sem mecanismos eficazes de governança multilateral” de há cem anos, que resultou na Primeira e Segunda Guerra Mundiais.
“A Covid-19 está lançando uma sombra em todo o mundo”, alertou Guterres, para destacar que o mundo não tem outra escolha a não ser agir.
Para o secretário-geral, ou os Estados-membros se reúnem “em instituições globais adequadas ou serão esmagados pela divisão e pelo caos.”
Aproveitou para ressaltar que o mundo precisa urgentemente de um pensamento inovador sobre governança global e multilateralismo adequados para o século 21.
O secretário-geral destacou várias mudanças implementadas na ONU para alcançar esse objetivo.
Destacou que desde que assumiu a secretaria-geral tornou a parceria estratégica com a União Africana uma prioridade. Segundo ele, isso é um modelo que a ONU “deve seguir nas relações com outras organizações regionais.”
Pedindo que o Conselho aprofunde essa colaboração, ele disse que a União Africana poderia, por exemplo, conduzir operações de paz e contraterrorismo, apoiadas por mandatos do Conselho de Segurança.
Guterres também ressaltou o foco na prevenção, incluindo a iniciativa Ação para Manutenção da Paz e várias iniciativas para erradicar exploração e abuso sexual em todo o sistema ONU.
CESSAR-FOGO – O secretário-geral abordou a resolução 2532 do Conselho de Segurança, aprovada em julho, sobre um cessar-fogo global imediato. Disse que conflitos, violações dos direitos humanos, crises humanitárias e atrasos no desenvolvimento estão interconectados, mas a resposta global é cada vez mais fragmentada. Para ele, a comunidade internacional está “em descompasso” com a realidade atual.
O chefe da ONU afirmou que “esta pandemia é um alerta para desastres ainda mais graves que podem ocorrer, começando pela crise climática.”
Disse que muitos dos desafios de hoje atravessam fronteiras, desde a crise climática até o aumento da desigualdade e o crime cibernético. Também envolvem grupos de interesse, empresas, organizações e setores que estão fora dos conceitos tradicionais de governança global. E ressaltou que o mundo precisa de uma governança global determinada, coordenada e flexível. Para o secretário-geral, “em um mundo onde as ameaças estão interligadas, a solidariedade é do interesse de todos.”
A nova governança global deve, por isso, segundo Guterres, incluir empresas, sociedade civil, cidades e regiões, universidades e jovens. Guterres destacou ainda as mulheres, metade da população global, têm sido preteridas. No próprio debate geral da ONU, a primeira mulher a discursar foi a número 57 na lista de oradores. Para Guterres, “as mulheres que assistem ao Debate Geral têm o perfeito direito de se sentir excluídas.” Com informações da ONU News.
Foto: ONU/Mark Garten