JOVENS AUTORES – Se o feminismo é para todo mundo, sejamos todos feministas
Beatriz Carline*
Em 02.10.2020
Após alguns anos afastada de coletivos e causas feministas, retornei às minhas leituras sobre o tema tentando entender o que tinha me afastado de algo que eu era tão envolvida. Comecei lendo bell hooks (assim, no diminutivo mesmo pois ela não acredita na hierarquia, nem mesmo nas letras), Angela Davis e Chimamanda Ngozi Adichie, a princípio para me educar sobre pautas antirracistas mas todas me levaram de volta ao feminismo.
Percebi logo nas primeiras páginas de o feminismo é para todo mundo de bell hooks o que me afastou do movimento. A ideia de que apenas as mulheres podem ser feministas, e que todos os homens são apenas agentes de opressão do patriarcado, como se mulheres também não reproduzissem o machismo estrutural, não me parecia ideal, sentia como um discurso raso, desses que buscam um culpado óbvio para solucionar um problema sem olhar, de fato para a raiz dele.
Ainda nessa leitura recebi duas novas informações, uma é que o feminismo que foi “comprado” pela mídia de massa foi um feminismo branco que não abraçava as pautas negras e revolucionárias pois este se encaixava nos padrões do patriarcado e assim surgiu a ideia de que mulheres querem se igualar aos homens. Na verdade, a luta feminista surge junto à luta dos direitos civis com o propósito de acabar com a opressão, no caso do feminismo, essa opressão vem do sexismo, e este atinge tanto mulheres quanto homens, não da mesma forma pois, a opressão acontece nas esferas do gênero, raça e classe, mas oprime a todos, da criança ao idoso.
É esse sexismo que ensina aos meninos que eles não podem chorar nem demonstrar sentimentos, e essa repressão de sentimentos gera a ideia de que o homem deve ter controle sobre tudo. Esse discurso cria homens controladores, obsessivos, que não sabem demonstrar ou interpretar emoções em outras pessoas e que não sabem como lidar com o que sentem, aí está a raiz de muitos comportamentos violentos e abusivos presentes em nossa sociedade.
Então, se o sexismo é opressor para todos, é papel de todos e todas o combaterem. Reconhecer os padrões sexistas que fazem parte da nossa vida é uma maneira de observarmos o quanto o ele nos atinge no dia a dia e como podemos parar de reproduzi-lo a fim de construir uma sociedade mais justa. Sejamos todos feministas e antirracistas.
*Beatriz Carline, 21 anos, é estudante do 7º período de Letras pela Universidade de Pernambuco (UPE) campus Mata Norte.
NOTA DO EDITOR
Com este artigo assinado por Beatriz Carline, de apenas 21 anos de idade, o blog Falou e Disse dá sequência à coluna JOVENS AUTORES. O espaço é destinado a estimular e encorajar adolescentes e jovens a compartilharem as suas ideias e os seus pontos de vista de maneira mais ampla, buscando publicar crônicas e artigos sobre os mais variados temas.
O artigo Se o feminismo é para todo mundo, sejamos todos feministas foi editado respeitando-se a íntegra do texto recebido.
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