O fantasma do comunismo

Por

Valéria Saraiva*

Em 05.10.2020

Começou a campanha eleitoral. Começou o barulho e, em muitos casos, a algazarra. Cabos eleitorais nas ruas se engalfinhando na defesa dos seus candidatos. Cargos comissionados das Prefeituras e Câmaras Municipais, muitos contra a vontade, também nas ruas, por medo de perder o emprego.

Os carros com alto-falante já estão nas ruas circulando com discursos elogiosos aos candidatos e atacando os adversários, com muitos de direita esbravejando contra a volta do comunismo.

Não entendo esse ‘medo’ do socialismo e do comunismo. Aqui no Brasil o comunismo nunca foi implantado. O governo do PT criou vários programas sociais que beneficiaram a população, mas não implantaram o comunismo.

Os políticos de direita estão usando as igrejas evangélicas como palanque para angariar votos com a desculpa de que se a esquerda ganhar vai implantar o comunismo.

Primeiro, que religião e política não deveriam se misturar. Segundo, que pra conseguir implantar o comunismo no Brasil, teria que haver uma revolução do proletariado.

As pessoas – a maioria – estão acomodadas nas suas casas, esperando o candidato que vai cair do céu e resolver todos os problemas da cidade, do estado e do país.

Ninguém está dando a mínima para a política e para os políticos. E essa revolução da classe trabalhadora está longe de acontecer.

Socialismo talvez, mas comunismo, não. Acredito que o Brasil está longe disso.

As pessoas se acomodaram com o sistema. E ficam esperando a solução dos seus problemas cair do céu.

Na França, há alguns anos, quando teve um aumento no valor do combustível, em questão se minutos as pessoas em protesto abandonaram seus carros no meio da rua causando um enorme engarrafamento. O governo vendo a situação, acabou retrocedendo da decisão.

Aqui o arroz triplicou de preço e ninguém faz nada. No início da pandemia, o combustível baixou consideravelmente. Agora, com a retomada da economia, ele voltou a subir. E cadê as pessoas pra reclamar? Pra fazer protestos, boicotes? Não fazem nada.

As coisas acontecem e ninguém liga. Até as mortes por balas perdidas nas favelas se tornaram comuns.

Lembrei-me de um trecho de uma música de Cazuza que ilustra bem esse momento:

“Eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades, o tempo não para, não, não para.”

Pois é, o tempo não para e nós estamos parados, esperando por algo que só depende de nós. O futuro depende de nós. O que você vai fazer sobre isso?

*Valéria Saraiva é enfermeira, poetisa, cronista, autora do livro “Lírios, Tulipas e escorpiões” e membro da Academia Cabense de Letras. Escreve às segundas-feiras.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do blog Falou e Disse.