Aquele garoto do bairro do Salgado
Jénerson Alves*
Em 09.10.2020
Está vendo aquele garoto sentado na calçada? Sim, ele está triste.
Neste momento, a cabeça dele está cheia – e vazia.
Não passa pela mente do garoto que ele está no bairro do Salgado, um dos mais antigos de Caruaru. Nos anos 30, famílias passaram pelo mesmo local onde hoje é a casa dele. Eram trabalhadores da Fábrica de Caroá, que começavam aquele que seria um dos maiores bairros de Caruaru – uma verdadeira ‘cidade’ dentro da outra.
O garoto não pensa que grandes nomes da cultura nordestina pisaram no mesmo solo em que seus pés agora estão. Ivanildo Vilanova, Zé de Nei, Cacho de Coco, Olegário Fernandes… tanta gente que viveu no bairro com nome de tempero.
Não pensa o menininho nas potencialidades econômicas do lugar. As lavanderias, os fabricos, a pujança da confecção… são meros detalhes que estão despercebidos.
O pequeno não se incomoda com a falta de infraestrutura no bairro. A buraqueira nas ruas, as vias sem iluminação, a insegurança advinda de uma conjuntura marcada por políticas públicas falhas e irresponsáveis, de quem sempre se preocupou com o centro e só lembra da periferia na hora de pedir voto.
O garotinho não pensa em nada disso…
Seu olhar está vazio – e cheio… de lágrimas.
Lágrimas que molham o rosto e caem no chão.
Agora, tanto faz onde ele está. Todo lugar é lugar nenhum.
Ele não tem mais ela. E um garotinho sem mãe sente um oco no coração.
Em qualquer lugar do mundo.
*Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel. Escreve às sextas-feiras.
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do blog Falou e Disse.
Foto destaque: Vista do bairro do Salgado, em Caruaru. Jénerson Alves, outubro de 2020.