Pernambuco é Pet Friendly?

Por

Arnaud Mattoso*

Em 05.11.2020

Cães e gatos de rua são encontrados em qualquer lugar do mundo, principalmente em países não desenvolvidos, onde o poder público insiste em tratá-los como um problema menor. Realmente, diante da falta de moradia, da fome, da deficiência na saúde pública e da violência parece uma questão menor, mas não é um problema qualquer. Nas praias do litoral pernambucano a quantidade de animais perambulando entre as pessoas supera a de pedintes. É uma questão socioambiental importante que afeta o turismo e a imagem de qualquer lugar turístico. Em regra geral, cães de rua não são agressivos, mas eles se reproduzem numa velocidade que só perde para os gatos.

Segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS, há cerca de trinta milhões de animais abandonados no Brasil, sendo dez milhões de gatos e vinte milhões de cães. Parte do problema está na ausência do poder público que não mantém uma efetiva política integrativa e participativa de proteção à saúde animal. “A questão exige debate e envolve a população, os organismos públicos, as universidades e ONG’s”, afirma o presidente da Comissão de Políticas Públicas do Conselho Regional de Medicina Veterinária de São Paulo, Carlos Augusto Donini. O foco de combate ao problema se concentra em castração e vacinação, mas são ações isoladas que se tornam ineficazes no médio e longo prazo. “É necessário um programa completo e contínuo para obter avanços significativos”, garante o médico-veterinário.

Cães de rua nem sempre nascem na rua. Muitos são abandonados por razões diversas que vai da velhice do animal a problemas comportamentais de bichos obtidos em abrigos ou a baixo custo, com idade igual ou superior a seis meses e os não-castrados. O abandono é considerado crime pelas leis brasileiras, mas raramente alguém é punido. O abandono de animais domésticos é maior no verão, entre dezembro e janeiro, quando é registrado um aumento de até 70% de cães e gatos abandonados. “É comum a presença de animais vagando em parques, amarrados em postes, jogados do carro ou simplesmente deixado pelos tutores em clínicas veterinárias e hotéis. A família não volta para buscá-los”, segundo informação do Instituto Pet Brasil.

Em cidades grandes, estima-se que para cada cinco habitantes há um cachorro. Desses, cerca de 10% estão abandonados e, em cidades menores, a situação não é diferente. Os cães são os que mais sofrem pela dependência ao ser humano. Ao serem abandonados podem ser mortos, atropelados, envenenados, passam fome e sede. Infelizmente, a falta de recursos impede que ONGs da causa animal tenham condições de resgatar e cuidar de todos os animais abandonados. De acordo com o Instituto Pet Brasil, existem cerca de 370 ONG’s no país atuando nessa área. Para a quantidade de animais necessitados é pouco, incapaz de atender a número tão expressivo.

No município do Ipojuca, que abriga a famosa praia de Porto de Galinhas, existe gente sensível à causa e preocupada com a salvaguarda de cães e gatos abandonados. São pessoas que usam os próprios recursos para resgatar os animais e dar alimentação, cuidados veterinários e castração. Pode-se imaginar o desafio de manter programas como esse, sem o apoio do poder público, de empresários ou de quaisquer outras fontes de fomento. Felizmente, está em curso um movimento colaborativo que inclua a sociedade nessa ajuda.

Um desses grupos abriga mais de duzentos cães num espaço distante do balneário. São animais que necessitam de alimentação, cuidados e adoção. Uma veterinária que atua de forma voluntária informou que, de outubro do ano passado até esse ano, realizou cinquenta e oito castrações em gatos de rua. Para isso, ela contou com pequenas doações que mal pagou o material necessário e feito a preço de custo. Gente ligada à causa animal se doa por amor e compaixão ao sofrimento deles, gerando filhotes sem lar. Filhotes que nem sempre chegam à vida adulta. Morrem atropelados ou mesmo assassinados por seres humanos que não os querem próximos às suas casas. Em breve, voltaremos a abordar esse tema.

*Arnaud Mattoso é jornalista e escritor.

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