Feliz cidade
Jairo Lima*
Em 08.11.2020
Dentre tantos caminhos que a pandemia tem puxado a atenção do homem encontra-se a revisão de paradigmas quanto a sua preferência e necessidade de convivência social. Todo isolamento força o homem à introspecção, à reanálise de valores e consequentemente à sua própria recriação. Alguns aproveitam esses preciosos e raros momentos nesta vibe, outros apenas acham se tratar de um tempo perdido. Fazer o quê?
Não estou aqui considerando o utópico e tão propalado ‘novo normal’. Isso é puro romantismo de quem sonha que as mudanças ocorrem de fora para dentro. O verdadeiro movimento da transformação pega o caminho inverso.
Mas é inevitável que a pandemia não deixe um caldo para o pensamento crítico da necessidade de ressignificações, sobretudo dentro do contexto urbano, da relação do cidadão com a sua cidade, do seu desejo de pertencimento e da sua legítima apropriação dos bens coletivos. Afinal de contas as cidades são feitas para o povo, onde os lugares, por exemplo, não existam para serem visitados, mas para de fato serem usufruídos.
Como organismos vivos, os aglomerados urbanos exigem que o cidadão seja perenemente considerado em toda e qualquer política pública, seja de pedra cal ou de ações que alcance a cidadania em sua plenitude. Caso contrário, a infeliz cidade vai aos poucos embutindo nos cidadãos a ideia de sonho perdido, do destino fatídico à baixa autoestima, ao estresse social e consequentemente o leva a tomar da depressão coletiva..
Hoje o cidadão está procurando o caminho do êxodo urbano, escapando do acinzentado que plástica e socialmente pinta o dia a dia de todos nos centros urbanos.
A cidade do bem viver é o desafio para o agora que entra na agenda das cidades. Não por acaso o que antes era predominante nas migrações internas, ou seja, o êxodo rural, inverteu-se consideravelmente. Hoje o cidadão está procurando o caminho do êxodo urbano, escapando do acinzentado que plástica e socialmente pinta o dia a dia de todos nos centros urbanos. As cidades pertencem ao povo, não faz sentido mantê-las sem esta compreensão. Não há lógica razoável que justifique qualquer ação institucional que não ponha o cidadão como prioridade.
*Jairo Lima é gestor público, poeta, escritor e artista plástico. É membro da Academia Cabense de Letras.
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do blog Falou e Disse.