Quantas vezes você já morreu?

Por

Valéria Saraiva*

Em 17.11,2020

Pra começo de assunto não estou falando de reencarnação ou qualquer coisa relativa ao Espiritismo. Ouvi uma música de Belchior e fiquei com um trecho dela na cabeça: “Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro.” Isso me fez refletir.

Quando ele fala que morreu, na música, ele não quis dizer que morreu fisicamente. Embora nas lutas da vida cheguemos a ficar fisicamente bem abatidos. Mas, acredito, é algo mais profundo.

Quando um garoto gosta de jogar futebol e depois dos estudos se torna um advogado, ele teve que matar o jogador de futebol que vivia dentro dele.

É dessas mortes que se trata no trecho da música. Quantos sonhos são enterrados na ampulheta do tempo? Quantos desejos são sufocados? E vamos deixando cada dia um pedaço de nós morrer. Um sonho de ser ‘chef’ de cozinha, marinheiro, astronauta, cantor, atriz. às vezes são sonhos até pequenos, como fazer uma viajem para o Rio de Janeiro pra caonhecer o Cristo Redentor.

Mas o dinheiro para as férias nunca sobra; é um pneu que fura, um dente que precisa de um canal, problemas de saúde na família. E aquele plano vai ficando para trás e morrendo, como muitos outros.

Na vida temos que ter garra e correr atrás dos nossos sonhos. Não podemos deixá-los morrer. Quem sabe como na música de Belchior, vamos conseguir viver esse ano? Mesmo com essa pandemia e quarentena que não acabam nunca. Vamos lutar para continuar sonhando e realizar nossos sonhos.

Segundo Tom Fitzgerald, “Se podemos sonhar, também podemos tornar nossos sonhos realidade.”

E volto a perguntar: Quantas vezes você já morreu?

Eu já morri várias vezes, mas todo dia me levanto disposta a lutar de novo.

*Valéria Saraiva é enfermeira, poetisa, cronista, autora do livro “Lírios, Tulipas e escorpiões” e membro da Academia Cabense de Letras. Escreve às segundas-feiras.