O resgate da Cultura cabense
Frederico Menezes*
Em 29.11.2020
Continuando nossa abordagem sobre um momento épico da cultura no município do Cabo de Santo Agostinho (PE) ocorrido na década de 1980, recordo com emoção quando veículos de comunicação a nível nacional noticiaram a eleição para o rei e a rainha do Carnaval pelo voto direto da população. A veia democrática pulsava. O Cabo era referência no quesito “ouvir a população” até mesmo dentro de suas manifestações folclóricas e culturais. Em praça pública a população se mobilizou para escolher quem seria seu rei momo e a sua rainha. Inédito. Impactante. Jornais e televisões noticiaram para o Brasil a iniciativa da então Secretaria de Turismo, Cultura e Esportes. No São João, a cidade, que não tinha tradição de uma festa forte e reconhecida, entrou no páreo das grandes rotas dos festejos: estabeleceu concurso da rua mais enfeitada e animada no São João, sendo a vencedora contemplada com atrações para realizar sua festa de São Pedro. Moradores de centenas de ruas por todos os distritos do município compraram a ideia e não apenas enfeitaram como fizeram fogueiras enormes e até contrataram trios de forró, fazendo com que na véspera joanina o município se transformasse num imenso arraial.
Uma comissão de pessoas conhecidas e notáveis na cidade, criada pela Secretaria de Cultura, percorria os distritos e o centro do município para determinar a rua vencedora. Não era bairro vencedor; era a rua. Imaginem a animação. No São Pedro a rua escolhida explodia na comemoração, recebendo atrações artísticas enviadas pelo poder público. Era prêmio. Neste período, saliento que, pela primeira vez, além dos artistas cabenses que se apresentavam nos diversos palcos armados por todo o município, o palco central recebia estrelas da musicalidade nordestina como Nando Cordel, Marinês, Azulão e tantos outros.
Foram também recuperados os grupos de Coco de Pontezinha, tendo sido promovido naquela década o Encontro Pernambucano de Coco. Deslumbramento pelo resgate do folclore do estado, tendo Pontezinha como sede desse resgate.
O objetivo era a diversificação dos investimentos na cultura. Não poderia ser diferente. O Cabo sempre foi rico em expressões artísticas e culturais. O projeto Luas de Pínzón levou para o litoral cabense, especificamente a praia de Gaibu, o talento dos nossos músicos, dinamizando as noites dos finais de semana no balneário. Na sede do município, se investia na escola de música Ladislau Pimentel, formando a base dos futuros representantes da nossa música, componentes para renovar a filarmônica da cidade . Em Ponte dos Carvalhos, o maior distrito do município, existia uma filial dessa escola. E na área musical não parou por aí. Pouca gente na atualidade sabe que o Cabo já teve seu coral municipal. Durante os anos de funcionamento, participou de vários eventos, sendo calorosamente aplaudido em suas apresentações. Natal, Páscoa, eventos diversos em praça pública, teatros ou dentro das igrejas, lá estava o coral prendendo a respiração do publico que, emocionado, sentia orgulho de sua origem.
Uma das maiores tradições da terra de Pinzón no campo da música não poderia ficar de fora. A Filarmônica Quinze de Novembro Cabense, segundo lugar no Festival Nacional de Orquestras Filarmônicas do Brasil, recebia da Secretaria de Turismo e Cultura o projeto “Para ver a banda tocar”. O objetivo era dar maior número de apresentações à orquestra e consequentemente visibilidade, gerando renda para a orquestra e seus componentes. Até então a filarmônica só tocava nas datas cívicas e algumas vezes no final de ano. Um patrimônio constituído de extraordinários músicos e que era um orgulho para a população. Esta parava para vê-la passar pelas ladeiras da cidade, emocionada diante da segunda melhor filarmônica do Brasil. Palco armado na sede e nos distritos e lá ia a Quinze de Novembro fazer a festa para os ouvidos dos cabenses. Era preciso ver a banda passar.
Não foi fácil chegar a estas conquistas. Muitas dificuldades financeiras, como ocorre, infelizmente, em nosso país, no trato com a cultura. Por isto, era necessário muita criatividade e poder de negociação para conseguir apoio da iniciativa privada. Os parceiros apareciam e os projetos aconteciam. Nos grandes eventos ou nos mais simples, a corrida aos patrocinadores ocorria. Se não havia recurso no orçamento isso não era motivo para não se fazer.
No próximo artigo tratarei especificamente do movimento teatral na cidade, pujante e tão vigoroso, que permitiu prêmios nas participações em festivais nacionais. Nossa cidade trouxe até escritor vencedor do prêmio Moliere, maior prêmio teatral do Brasil, para conversar com grupos teatrais da cidade. Poucos sabem disso. Até lá.
*Frederico Menezes é escritor e membro da Academia Cabense de Letras.
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opiniãoa do blog Falou e Disse.
Foto destaque: Internet – Sítio histórico de Nazaré. Ruínas do Convento Carmelita e igreja de Nazaré.
Ai Fred, coisa mais linda de se ver, esse seu resgate. Inclua o pastoril infantil também. Sou testemunha dessa época de ouro na área Cultural de nossa cidade. Que saudade!
Vera, foi.um momento mágico de nossa cultura. De fato precisamos falar dopastoril infantil. Se tiver algo a respeito, um detalhe importante para uma abordagem me envia. Abração
Muito bom fazer o resgate da cultura cabense. Esse texto aponta a necessidade de se investir na cultura. O poder público precisa fomentar a cultura da cidade que está abandonada e esquecida.
Fundamental dar um rosto a cidade e penso que a cultura resgatada é o início desse processo
Sensacional , uma pessoa que conheço de perto, espírita renomado, capacitado em tudo que faz. Estudei o primário e o ginasial com seus irmãos . Saudades amigo