O fio da navalha

Por

Valéria Saraiva*

Em 07.12.2020

Hoje terminei a leitura do livro O fio da navalha, do escritor Somerset Maugham. Fiquei intrigada com o final do livro. Ele dá uma reviravolta na história toda. Mas a conclusão é que todos os personagens, bem ou mal, conseguiram aquilo que almejavam.

Fiquei fascinada pelo personagem principal, Larry. Ele conseguiu se desapegar de tudo, viver praticamente como um eremita. Ele conseguia ser feliz com pouco, enquanto para outras pessoas, felicidade era frequentar a alta sociedade, usar roupas de grife, ter a melhor casa ou o melhor carro. Para ele, ser feliz era contemplar a natureza. Ver a grandiosidade do trabalho de Deus. Às vezes, é só disso que estamos precisando.

Imagina sentar em uma cadeira ou até mesmo no chão e contemplar montanhas, lagos, o horizonte e sentir que o mundo é muito maior que os seus problemas. Observar o infinito e saber que não estamos sós nesse mundo. Que existe o absoluto em tudo que nos cerca.

às vezes, quando olho o mar e vislumbro o horizonte, percebo que Deus está lá, que não criou esse mundo por acidente. Tudo é perfeito, desde a concepção até a morte. Tudo tem um ciclo, cada célula, cada átomo, tudo foi projetado com maestria.

Vivemos nossas vidas com tanta pressa que esquecemos de observar essas coisas. A vida passa rápido enquanto estamos sempre ocupados para contemplá-la. As flores desabrocham, as crianças sorriem, o sol nasce e no final do dia se põe; a lua cheia prateia a noite, os pássaros cantam no alvorecer de um novo dia. Quando menos esperamos, nós partimos desse mundo, sem ter tempo de dizer adeus.

Foi tentando se encontrar que Larry achou o caminho da iluminação. Seguir o exemplo dele é difícil, mas podemos tentar ter uma vida mais iluminada.

Vou terminar essa crônica com a epígrafe do livro. Texto escrito por KATHA-UPANISHAD, que diz: “É difícil caminhar sobre o afiado fio de uma navalha; do mesmo modo, diz o sábio, é difícil o caminho da salvação.”

*Valéria Saraiva é enfermeira, poetisa, cronista, autora do livro “Lírios, Tulipas e escorpiões” e membro da Academia Cabense de Letras. Escreve às segundas-feiras.

Foto destaque: Cena do filme O fio da navalha (1984) – NetCineHD