Transformando ar em água na área rural do Peru

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ONU News

Em 18.12.2020

Quando Max Hidalgo tinha 13 anos de idade, seus pais o mandaram embora. Não como um castigo, mas como um presente – mesmo que a saudade de casa às vezes fosse tão intensa que ele não conseguia suportar. Hidalgo foi enviado para a escola onde seus pais esperavam que ele recebesse uma educação de qualidade, que não estava disponível em sua remota aldeia peruana.

“Foi um grande sacrifício para minha família, mas se não fosse por isso, eu nunca estaria onde estou hoje”, disse o biólogo e inventor de 30 anos, que foi selecionado como um dos Jovens Campeões da Terra de 2020 do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Ele é um dos sete ganhadores em todo o mundo que receberão financiamento e orientação para apoiar suas iniciativas ambientais.

Tecnologia inspirada na natureza 

Inventor implacável, Hidalgo tem arrecadado prêmios atrás de prêmios por seu trabalho, que usa a natureza como inspiração para inovações tecnológicas que mudam vidas em uma das comunidades mais pobres do mundo.

“Eu desenvolvi um gerador de energia elétrica na forma de uma flor local, e um vaso de flores que pode carregar baterias de celulares”, contou. “Agora, estou trabalhando no desenvolvimento de embalagens biodegradáveis hexagonais, como uma colmeia, para que sejam robustas, mas compactas”. A natureza em si é incrível”. Há tanto que podemos aprender observando-a”, complementou.

Sua invenção mais aclamada até agora transforma o vento em água. Chamada de Yawa, em homenagem às palavras em Quechua para água, yaku, e vento, waira, a tecnologia usa uma turbina eólica para condensar o vapor do ar e gerar água.

O sistema que pode fornecer água para uma aldeia de 100 habitantes e custa cerca de 70.000 dólares. A tecnologia é muito necessária no Peru, de onde vem Hidalgo, um dos países da América Latina com maior risco de crise hídrica devido às mudanças climáticas.

“Há comunidades que esperam por água há 20 anos e dependem de caminhões que chegam com água cara, de qualidade questionável. Fomos a uma cidade no sul do Peru e o custo estimado de água encanada para nesta comunidade de 100 pessoas foi de US$ 1 milhão!”, disse Hidalgo.

Economia circular

A tecnologia Yawa é um exemplo de melhores práticas na economia circular. Os materiais usados para construir a turbina são recicláveis e há uma quantidade mínima de plástico no dispositivo. A tecnologia é simples de usar e está até sendo modificada para se adaptar à qualidade do ar local, uma resposta aos desafios impostos pela poluição atmosférica. Mas, o mais importante, a tecnologia é algo que pode ser usado, possuído e reparado pelas comunidades que se beneficiam dela, mesmo que não tenham clareza sobre a ciência por trás.

“Quando eu estava testando esta tecnologia pela primeira vez em diferentes comunidades rurais, passei muito tempo explicando os aspectos técnicos e os processos científicos por trás dela”, disse Hidalgo. “Em certo momento, uma mulher me parou, me olhou nos olhos, e disse: ‘Jovem, eu só quero água’. E isso mudou algo dentro de mim, e eu sabia que tinha que manter as coisas simples”.

Para Hidalgo, sair do laboratório e entrar nas comunidades é fundamental para qualquer pessoa que procure usar tecnologia ou inovação para produzir mudanças ambientais ousadas.

“Temos que ouvir o que as comunidades querem e responder de acordo com as suas necessidades. É para lá que os ventos da criação nos levam”, afirmou, fazendo um trocadilho com seu próprio projeto.

“Max Hidalgo exemplifica o tipo de engenhosidade que precisamos para permitir às comunidades responder à emergência climática em que nos encontramos”, disse a economista ambiental especializada em energia, clima e desenvolvimento sustentável do PNUMA, Miriam Hinostroza. “Precisamos de soluções, incluindo aquelas baseadas na natureza, que sejam acessíveis e escaláveis para que as comunidades de baixa renda também possam se tornar resistentes ao clima”.

“A solução de grandes problemas nem sempre requer grande tecnologia. Exige ideias criativas e grandes compromissos. Não deixe nunca de acreditar em suas próprias ideias, porque você pode mudar a história”, concluiu Hidalgo.

Os Campeões da Terra do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e os Jovens Campeões da Terra honram indivíduos, grupos e organizações cujas ações têm um impacto transformador sobre o meio ambiente.

O Prêmio Jovens Campeões da Terra é a principal iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente para engajar a juventude no enfrentamento dos desafios ambientais mais urgentes do mundo. Max Hidalgo é um dos sete vencedores anunciados em dezembro de 2020, na cúspide da Década das Nações Unidas para a Restauração do Ecossistema 2021-2030. Ele concorreu com o economista carioca Eduardo Ávila, um dos finalistas regionais, selecionado por seu projeto de implementação de painéis solares em favelas, o Revolusolar.

Ao apresentar notícias sobre o trabalho significativo que está sendo realizado nas frentes ambientais, estes prêmios visam inspirar e motivar mais pessoas a agir em prol da natureza. Ambos os prêmios fazem parte da campanha #PelaNatureza do PNUMA para impulsionar a Conferência da ONU sobre Biodiversidade (COP 15) em Kunming, em maio de 2021, e catalisar a ação climática até a Conferência da ONU sobre Mudança Climática (COP26) em Glasgow, em novembro de 2021.

Foto destaque: PNUMA – Max Hidalgo construiu turbinas eólicas portáteis que coletam até 300 litros de água por dia da umidade atmosférica e névoa.