Na fila do banco
Jénerson Alves*
Em 18.12.2020
Não importava o tamanho da fila. Ele fazia de tudo para pagar as contas no mesmo lugar. O motivo era ela. E do final da ala ele já procurava vê-la. Mesmo com um trabalho tão estressante, envolvendo cálculos, dinheiro, clientes nem sempre educados, ela mantinha um sorriso no rosto.
Ele esperava com paciência até ser atendido por ela. Entregava as contas fitando os seus olhos luminosos, acompanhava seus lábios enquanto ela fazia a contagem das cédulas, observava os seus dedos esguios realizando os procedimentos. Tinha vontade de puxar uma conversa, mas procurava palavras e não as encontrava.
Nesse período, sonhava acordado com tanta coisa. Imaginava encontrando-a em outro lugar, onde ela estivesse livre da cabine do banco. Poderia ser no meio da rua. Aí sim. Ele iria chamá-la para tomar um café, despretensiosamente.
Iria fazer com que os olhos dela enxergassem os dele. Iria sentir os seus lábios proferindo palavras para ele. Iria unir os dedos dela aos seus. Os sonhos iam tomando corpo, levando-o para detalhes impronunciáveis. Ele queria viajar no corpo daquela misteriosa senhorita, da qual a única coisa que ele sabia era o nome, que estava meio escondido no crachá…
Voltava à realidade com a voz dela. O pagamento já havia sido efetuado. Ela lhe perguntava, com um sorriso:
– Mais alguma coisa, senhor?
E ele fazia a cara mais blasé que podia, e respondia:
– Não. Nada.
*Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel. Escreve às sextas-feiras.
Foto destaque: Giuliano Rangel Alves/Pixabay