Carnaval adiado
Carlos Sinésio*
Em 22.12.2020
O governo de Pernambuco anunciou, na semana passada, que em 2021 não haverá o Carnaval, pelo menos no período previsto no calendário oficial de eventos. Na verdade, ele apenas formalizou uma decisão que já deveria estar tomada há algum tempo. Haja vista que outras cidades, como Salvador e Rio de Janeiro, já sabiam há meses que os festejos de Momo não seriam possíveis, por causa da pandemia da Covid-19.
Ora, só alguém com o máximo de estupidez poderia pensar que, no próximo ano, haveria Carnaval na forma e no período em que costuma acontecer, reunindo milhares e milhares, às vezes até milhões de pessoas em um mesmo espaço. Ainda que haja vacina contra a Covid disponível para uma parcela da população, pois a situação é gravíssima. Até porque, como se sabe, nenhuma vacina que está sendo produzida agora garante a imunidade total de quem é vacinado(a).
A circulação do coronavírus voltou a crescer muito e a causar vítimas em grande escala, no Brasil e no mundo. Vários países europeus e asiáticos, por exemplo, voltaram a tomar medidas radicais para diminuir a circulação das pessoas e a propagação do vírus. Este que inclusive pode se modificar e criar problemas ainda mais sérios.
Aqui no Brasil, infelizmente, uma grande parcela da população continua vacilando, contrariando as orientações da ciência, dos médicos e dos gestores e não tomam as devidas precauções para evitar contaminação. Basta ver as aglomerações nos grandes e médios centros de compras para se constatar tudo isso.
Pessoas sem qualquer senso de responsabilidade e sem consciência coletiva continuam sem higienizar as mãos, sem usar máscara ou as usando de forma incorreta, sem procurar manter o distanciamento social. O resultado trágico disso pode ser visto nas estatísticas da Covid diariamente nas mídias, sobretudo nas TVs que mostram até mapas sobre a tragédia.
Claro que todos sabem dos prejuízos econômicos que a não realização do Carnaval causa. O setor de turismo e lazer é fortemente atingido. É compreensível o desespero de quem vive de eventos, de quem tem neles o seu meio de sobrevivência. O próprio Estado, e mesmo os municípios, deixam de arrecadar mais impostos sem os eventos.
Entretanto, é imprescindível controlar a propagação do coronavírus e preservar a vida das pessoas, o maior bem que se tem. Infelizmente, a decisão dos governos de cancelar o Carnaval é duríssima, traumática, proporciona gigantescos prejuízos à economia.
Muito pior, porém, é ver tantas pessoas doentes, morrendo com ou sem atendimento médico adequado. É preciso a compreensão e o engajamento de todos para se enfrentar tantas adversidades. Só assim poderemos vencer esta guerra sem precedentes contra a Covid e brincar os carnavais futuros.
*Carlos Sinésio é jornalista com 35 anos de profissão. Trabalhou nos jornais O Globo, Jornal do Commercio e Diário de Pernambuco. Foi assessor de comunicação em diversas instituições públicas e privadas e repórter freelance no jornal O Estado de S. Paulo e na IstoÉ. Atua na TV Alepe. Escreve às terças-feiras.
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do blog Falou e Disse.
Foto destaque: Internet
Lúcido e abrangente artigo, Sinesio . E a ilustração é muito feliz e poética , exprimindo, ao mesmo tempo , frustração, sonho, dor, fantasia… Essa mistureba toda que estamos vivendo.