Olhar pra frente
Frederico Menezes*
Em 27.12.2020
Ninguém sabe quem foram os soldados torturadores do Cristo, mas este permanece iluminando vidas.
Isso não significa negar o passado. Afinal, não há presente sem a construção efetivada nas experiências do ontem. Olhar pra frente, na verdade, tem a ver com a edificação do futuro, formando um outro presente.
Se pensarmos direito, para que ficarmos o tempo todo presos ao passado, sobretudo aos dolorosos momentos, aos instantes que nos fizeram mal, se o passado foi onde estivemos e agora precisamos ver para onde estamos indo, onde queremos chegar?
Muito comum, após uma experiência traumática, ficarmos revivendo negativamente aqueles fatos ou circunstâncias. E isto nos encarcera nas sensações que nos provocaram aquelas vivências. Deixamos que correntes de perturbação se vitalizem na nossa história de vida e isto paralisa nossa capacidade de viver melhor o presente, organizando um futuro diferente. A lei de Deus deseja exatamente isso: que aprendamos com o passado e busquemos entender como ele molda o presente, mas que o presente, cheio de possibilidades, está moldando o que encontraremos amanhã.
No universo da emoção isso tem um impacto em nossa qualidade de vida. O que é a mágoa senão um encarceramento numa prisão de mal estar do passado? Ninguém tem mágoa do futuro que não viveu, não é mesmo? Cristo foi e é magnífico terapeuta e, sendo assim, nos recomendou o perdão. Este nos libera da cela da mágoa e nos deixa livre a estrada para um futuro melhor, mais saudável e pleno.
Ficar nos condenando por decisões equivocadas para o resto da vida, além de improdutivo é só um gesto de auto punição. Quando aprendemos com o erro e nos corrigimos, iluminamos nosso ser com a consciência da experiência. Isso é sabedoria. E estamos prontos para novos aprendizados, nos tornando criaturas melhores.
Ficar preso ao que nos machucou, remoendo o que nos feriu, é permanecer atado ao sofrimento do qual já poderíamos ter nos livrado.
Tem muita gente com mágoa e até raiva do coronavírus. Estragou planos, interrompeu coisas que habitualmente eram feitas. Vitalizamos o vírus e sintonizamos numa frequência baixa de existir.
O que eu fui não pode ser mais importante do que eu sou. E o que eu sou é fundamental para o que serei. Estou gestando o novo ser agora. Vou encontrar o que faço no presente lá no amanhã. E quando lá estiver vou entender que foi o passado que me trouxe até aqui. Com um detalhe: hoje entendo que o passado foi escolha que fiz quando ele era o meu presente. Então decido se quero que o futuro tenha mais luz ou sombra. A escolha faço agora no presente, que será o metro da avaliação quando meu futuro for o presente que terei.
Resumindo: perdoe e se auto perdoe. Aprendamos com tudo e a tudo aperfeiçoados. Evoluir. Iluminar-se. Acreditar sempre na vida.
Ninguém sabe quem foram os soldados torturadores do Cristo, mas este permanece iluminando vidas. A sombra ficará no passado, mas a luz do evangelho clareia o presente apontando o futuro feliz ou mais feliz que teremos.
Recordemos que até a pandemia será, um dia, passado, com seu cortejo de lições e aprendizados sobre a vida, a ciência e nós mesmos, não é verdade?
*Frederico Menezes é escritor e membro da Academia Cabense de Letras.