Cristãos sem Cristo

Por

Jairo Lima*

Em 10.01.2021

Não basta ser da boca pra fora

Cristão do discurso por segundo

Só retórica não muda o mundo

Nem o mal se acaba ou segue embora

É preciso cada um, a cada hora

Viver o que Jesus recomendou

Irmos muito além do que Ele apregoou

Portanto, seguirmos na atitude

A fé nos convida à virtude

De fazermos tal qual Ele ensinou

Acaso os mais de 2.500.000.000 (dois bilhões e quinhentos milhões) de habitantes da terra declarados cristãos, incluindo eu, claro, fizéssemos apenas 10% do que fez Jesus quando estava entre nós, certamente esse mundo já seria outro ó, faz tempo! Venceríamos quaisquer adversidades. Pois vejamos:

Se juntarmos os cinco maiores exércitos do planeta, unindo as potencias mundiais como China, Índia, Estados Unidos, Coréia do Norte e Rússia, teremos um quantitativo enorme de homens bem treinados, preparados e aptos para qualquer guerra, com 7.121,028 (sete milhões, cento e vinte e um mil e vinte oito) soldados, é fato. Só que este quantitativo apenas representa 0,28 % (zero, vinte e oito por cento) do “exército do bem”. Daí vem a pergunta que não pode calar: se somos uma maioria com potencial estratosférico, por que ainda há mais guerras que passeatas pela paz em nosso planeta?

Os cristãos compõem um batalhão espalhado pelos seis continentes – Ops! Nenhuma área descoberta, heim? – capaz de combater a corrupção mundial num golpe só, (vapt, vupt), com força suficiente também para banir a fome do nosso planeta num passe de mágica.

Aí pensei! Dois bilhões e meio de pessoas marchando sobre o mal, sobre as mazelas sociais, esmagando as ilusões da vida, pondo guilhotinas na arrogância e na vaidade. Ave Maria! Parece sonho. Oh! Quantos preconceitos não poderiam tombar? Quantas lágrimas seriam evitadas? E quantos bilhões de dores aniquiladas?…

Mas, quem errou? Jesus, como um líder, ou seus liderados?

Jesus certamente não foi; boto fé nEle. Pois aqui foi o maior estrategista que a humanidade já viu. Sem usar armas liderou multidões que mesmo após a sua partida só cresceu. É o nosso verdadeiro pop star. Enfrentou os poderosos com o verbo fora da bainha; sua estrutura bélica foi só um jumento; ensinava com o exemplo e não com chicotadas; cinquenta flexões ou a capinação do Monte Tabor ao meio dia. Não era um líder temido, mas sim respeitado e a sua força não estava nos músculos do corpo, mas nas fibras da sua alma. Foi com a energia moral que mostrou ser possível, quando se tem fé, curar leprosos, fazer cego voltar a enxergar, paralíticos andarem, alimentar um batalhão de quatro mil pessoas num deserto multiplicando pães e peixes…Um líder igual a Ele até hoje não existiu.

Até quando foi assassinado esse humilde filho de carpinteiro poupou a vida de muitos dos seus liderados, pois pediu compaixão para com os seus algozes, evitando assim um genocídio desfavorável. A sua principal arma sempre foi o amor, que entregou nas mãos de cada um e disse: Vai e pregai o evangelho a toda a criatura.  E, de fato, lá se foi aquela multidão pregar as Boas Novas, atravessando gerações, anos, décadas, séculos e milênios.

Ainda hoje a retórica é grande, o discurso é eloquente. Temos até vários manuais, alguns inclusive com capa de ouro. Bradamos bem, ou seja, o nosso ‘blá, blá, blá’ tá pra lá de bom. Porém, todavia, entretanto, contudo, não obstante, eis que agora percebemos que não escutamos tudo ou que não optamos por fazê-lo e o Dalai Lama nos deu a dica das consequências, quando disse: A arte de escutar é como uma luz que dissipa a escuridão da ignorância e, pois, antes, o nosso Divino General falou: Amai uns aos outros como eu vos amei…e é aí que a coisa pega! Enfim, parece que na verdade já estamos bem pra lá de Marrakech.

Bom, além do sentimento de culpa, fico por aqui com meu amigo de fé, meu irmão camarada, Roberto Carlos: “A covardia é surda, só ouve o que convém”.

*Jairo Lima é poeta, escritor, artista plástico e membro da Academia Cabense de Letras.

Foto destaque: Parte do ‘exército’ de voluntários da Associação Amigos Multiplicadores da Esperança (AME), do Cabo de Santo Agostinho. Entidade atua dentro dos preceitos cristãos e reúne mais de 300 colaboradores. Divulgação.