O indígena brasileiro que foi executado pela igreja por ser homossexual
Maria Fernanda Garcia/Observatório do 3º Setor
Em 12.01.2021
Tibira, que significa homossexual na língua tupi, foi condenado à morte por sodomia por Yves d’Évreux, um frei da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, que chegou ao Brasil em 1612
Os colonizadores que chegaram ao Brasil a partir de 1500, além de escravizarem e exterminarem os indígenas brasileiros que residiam na nova terra, também obrigaram a população a conviver com sua cultura e religião.
Em 1614, dois anos após a chegada dos colonizadores franceses à região norte do Brasil, Tibira, que significa homossexual na língua tupi, foi condenado à morte por sodomia por Yves d’Évreux, um frei da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos.
Tibira tentou fugir para a floresta por vários dias, mas foi recapturado pelas autoridades francesas. Antes da sua execução, Tibira foi batizado por Yves d’Évreux com o nome de Dimas, tendo sido amarrado a um canhão, que o disparou, matando-o.
De acordo com a hagiografia, São Dimas é considerado o “bom ladrão”. Foi um dos homens crucificados ao lado de Cristo que, arrependido de seus erros em vida, recebeu a promessa de que ainda naquele dia estaria no Paraíso.
A documentação detalhada, no caso, é o relato do próprio religioso, publicada em livro intitulado ‘História das Coisas Mais Memoráveis Acontecidas no Maranhão nos Anos de 1613-1614’.
“Um pobre índio (sodomita), bruto, mais cavalo do que homem, fugiu para o mato por ouvir dizer que os franceses o procuravam e aos seus semelhantes para matá-los e purificar a terra de suas maldades por meio da santidade do Evangelho, da candura, da pureza, e da clareza da religião Católica Apostólica Romana”, relatou d’Évreux.
Tibira foi levado a um canhão instalado na muralha do forte de São Luís. Amarram-no pela cintura à boca da arma. Quando lançaram fogo, “em presença de todos os principais, dos selvagens e dos franceses (…), imediatamente a bala dividiu o corpo em duas porções, caindo uma ao pé da muralha, e outra no mar, onde nunca mais foi encontrada”, registrou o frade.
Não há notícia no Brasil de nenhum outro condenado que tivesse sido executado assim, na boca de um canhão. E também o caso de Tibira foi a primeira execução por homossexualidade documentada no Brasil.
Em 2014, o ativista LGBT Luiz Mott iniciou uma campanha para canonizar Tibira como um santo homossexual, para que este fosse reconhecido como um mártir. No dia 5 de dezembro de 2016, um monumento dedicado a Tibira foi construído na Casa do Maranhão, durante a Semana Estadual de Direitos Humanos.
Fontes: BBC Brasil e Wikipédia
Imagem destaque: Hafaell