Mais trabalho, menos vaidade
Carlos Sinésio*
Em 12.01.2021
Quem não se comunica se trumbica, dizia o velho e saudoso pernambucano Chacrinha. A propaganda é a alma do negócio, diz o ditado de origem portuguesa. Esses dois jargões que se tornaram tão populares no Brasil, mesmo sendo tão antigos, continuam valendo até os dias atuais. Importante segui-los, mas sem tantos exageros que possam causar um efeito contrário ao resultado esperado por alguém que quer divulgar ideias ou produtos.
O problema é que muitos fazem a interpretação errada dos ditados e acabam exagerando na dose, que deve ter sempre a medida certa na comunicação para não cansar o público alvo e não surtir os resultados desejados a quem quer divulgar algo ou mostrar alguma coisa. Com o surgimento das redes sociais, determinadas pessoas, por vaidade extrema, ignorância ou falta de bom senso, começaram a abusar demais delas.
Aqui não se quer abordar, avaliar ou julgar o que certas pessoas fazem para aparecer na sua vida privada. No seu mundo particular, cada um faz o que gosta ou quer para aparecer, se mostrar, se exibir, desde que não prejudique os outros. E ninguém, muito menos nós, temos nada a ver com isso.
O objetivo, portanto, é alertar gestores que acham ser notícia relevante qualquer coisa que façam, merecendo ser postado nas suas mídias pessoais ou públicas. Fazem isso e esquecem, de fato, de trabalhar mais.
É muito importante um gestor divulgar o trabalho que a sua instituição ou gestão faz, sim. Todos devem prestar contas do que fazem. A sociedade tem o direito de saber o que acontece no órgão público e onde o seu dinheiro está sendo investido ou gasto. Isso é importante e necessário. Tanto que a legislação prevê verbas para publicidade.
Infelizmente, certos gestores públicos, no afã de simplesmente aparecer, na ânsia de mostrar serviço, acham que tudo é notícia e acabam gastando muita energia com coisas inúteis, posando a todo instante para fotos ou gravar vídeos sobre coisas sem a menor importância para a maioria das pessoas.
Passeando pelas redes sociais, é possível ver gestores tentando tornar em notícia relevante uma reunião interna qualquer, um despacho corriqueiro com um auxiliar, uma conversa com alguém na rua. Fazem isso como se estivessem gravando em plena campanha política para um programa do horário eleitoral.
Cá pra nós, não tem quem aguente, né mesmo? O cidadão segue um administrador público nas suas redes para tomar conhecimento de ações concretas, de fatos relevantes para a comunidade, para a cidade, para o estado e não para simplesmente alimentar vaidades pessoais.
É preciso racionalizar o tempo, que é dinheiro, como se diz. É importante mesmo mais trabalho e menos foco nas mídias com coisas irrelevantes. Ninguém merece ser bombardeado com informações inúteis e fúteis.
*Carlos Sinésio é jornalista com 35 anos de profissão. Trabalhou nos jornais O Globo, Jornal do Commercio e Diario de Pernambuco. Foi assessor de comunicação em diversas instituições públicas e privadas e repórter freelance no jornal O Estado de S. Paulo e na IstoÉ. Atua na TV Alepe. Escreve às terças-feiras.
Foto destaque: Internet