COVID-19 pode gerar 2 milhões de casos adicionais de mutilação genital feminina na próxima década

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Natalia Kanem e Henrietta Fore, diretoras executivas da UNFPA e UNICEF

Em 07.02.2021

Em artigo para o Dia Internacional de Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina, lembrado em 6 de fevereiro, as diretoras executivas do Fundo de População da ONU (UNFPA), Natalia Kanem, e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Henrietta Fore, relatam a preocupação com os casos adicionais que podem ocorrer na próxima década por conta da COVID-19.

Elas pedem colaboração global, regional, nacional e local para acabar com o problema, que pode afetar 4 milhões de meninas e mulheres todos os anos.

Leia a íntegra a seguir.

Dois milhões adicionais de casos de mutilação genital feminina podem ocorrer ao longo da próxima década, uma vez em que a Covid-19 fecha escolas e interrompe programas que ajudam a proteger meninas desta prática nociva.

Nós precisamos agir agora para impedir que isso aconteça.

Mesmo antes de a Covid-19 suspender o progresso, a meta dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)de acabar com a mutilação genital feminina até  2030 era um compromisso ambicioso.

Muito longe de diminuir nossa ambição, no entanto, a pandemia tem aguçado nossa resolução em proteger 4 milhões de meninas e mulheres que estão sob risco de mutilação genital feminina todos os anos. Aqui está como:

Nós precisamos nos unir. Acabar com a mutilação genital feminina requer colaboração entre um amplo grupo de partes interessadas. Isso inclui formuladores de políticas públicas a nível global, regional, nacional e local; sociedade civil de pequenas organizações de base, grupos de direitos das mulheres a líderes religiosos e lideranças idosas locais; assim como autoridades policiais e judiciais. Homens e meninos também têm um papel fundamental a cumprir. Juntos e juntas, devemos também ampliar as vozes poderosas e persuasivas de sobreviventes que estão cada vez mais liderando mudanças transformadoras em suas comunidades.

Nós precisamos financiar nossos esforços na mesma medida do nosso compromisso. Mesmo nos países onde a mutilação genital feminina já está diminuindo, progresso precisa aumentar dez vezes de forma a alcançar a meta global de eliminação até 2030. Isso requer mais 2,4 bilhões de dólares ao longo da próxima década, o que corresponde a menos de 100 dólares por menina. Este é um preço pequeno a ser pago para preservar a integridade do corpo de uma menina, sua saúde e seu direito em dizer “não” à violação. No entanto, a maior parte desse dinheiro ainda precisa ser arrecadada.

Nós precisamos agir rapidamente, decisivamente e em múltiplas frentes simultaneamente. Nós precisamos garantir que meninas tenham acesso à educação, atendimento em saúde — inclusive serviços de saúde sexual e reprodutiva — e meios de subsistência, e que estejam protegidas por leis, políticas e novas normas sociais. Deixe-nos encorajar as habilidades de liderança de jovens adolescentes e seus pares, e inspirar seu poder em erguer a voz e dizer “chega” para todas as formas de violência, inclusive violentas agressões a seus corpos.

As mesmas intervenções que vão acabar com a mutilação genital feminina também vão apoiar o poder e a liberdade de meninas e mulheres em exercer seus direitos humanos, alcançar seu potencial e contribuir totalmente a suas comunidades e futuros. A eliminação da mutilação genital feminina e a equidade de gênero são objetivos interdependentes e que se reforçam mutuamente. Simplificando, se a equidade de gênero fosse uma realidade, não haveria mutilação genital feminina. Este é o mundo que imaginamos, e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável traçam o caminho para nos levar até lá.

Nós sabemos o que funciona. Nós não toleramos desculpas. Nós já tivemos violência contra mulheres e meninas suficiente. É hora de UNIR em torno de estratégias comprovadas, FINANCIÁ-LAS adequadamente e AGIR.

Foto destaque: Luca Zordan/UNFPA – O pai de Mura Arabe (2a. à direita) impediu que ela e as irmãs sofressem mutilação genital em Afar, na Etiópia.