As tragédias anunciadas

Por

Carlos Sinésio*

Em 16.02.2021

Na semana passada, uma senhora de 60 anos morreu após ser atingida por pedaços de material que se desprendeu da fachada de um prédio na Rua da Aurora, no Centro do Recife. Uma fatalidade que poderia ter sido evitada.

Em agosto de 2017, uma marquise de uma pousada na bela praia de Gaibu, no Cabo de Santo Agostinho, usada indevidamente como varanda, desabou e matou três pessoas, uma delas uma criança. Também deixou três pessoas feridas. Um acidente que poderia ter sido evitado.

Em 2013, a tragédia da boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, chocou o país. Um incêndio criminoso, provocado por imprudência, tirou a vida de 242 pessoas, a maioria jovens, e feriu outras 680.

Os três exemplos acima servem para ilustrar o tamanho da irresponsabilidade de muitas autoridades brasileiras que não fiscalizam como deveriam os imóveis, sejam residenciais ou comerciais. Muitas tragédias como as citadas poderiam ser evitadas se houvesse um trabalho de fiscalização eficiente.

Embora a culpa maior por esses eventos sinistros seja das autoridades (in)competentes, não se pode negar que muitos brasileiros são negligentes e irresponsáveis, pois também não tomam os cuidados necessários para evitá-los.

Se o edifício São Cristóvão, onde, inclusive, trabalhei, recebesse serviços de manutenção eficientes, certamente pedaços da fachada não teriam caído e matado a trabalhadora Célia Cesária de Barros, que estava a caminho da sua casa, em Joana Bezerra. Infelizmente, foi vítima de irresponsáveis criminosos.

No caso da marquise, ela talvez não tivesse desabado, caso o dono da pousada adotasse os cuidados necessários ou a prefeitura municipal, na época da construção, tivesse fiscalizado a obra e dado as orientações necessárias. Existe o setor de controle urbano exatamente para fiscalizar, fazer cumprir a legislação e evitar irregularidades. A irresponsabilidade foi geral.

Centenas de pessoas não teriam morrido ou ficado feridas, se integrantes de uma banda não tivessem acendido, irresponsavelmente, rojões numa boate superlotada revestida de materiais altamente inflamáveis. Tanta gente não teria sido massacrada se a boate tivesse saídas de emergência eficientes e sido seriamente fiscalizada pelas autoridades em Santa Maria.

Essas tragédias anunciadas deveriam pelo menos servir de exemplo e de alerta para que haja mais respeito com a vida humana, com a vida de pessoas inocentes que morrem pela total irresponsabilidade de pessoas. Esses casos ocorrem com frequência e quase sempre não há punição para os culpados.

Diante dessa situação, todo cuidado é pouco. Só resta aos cidadãos brasileiros torcerem para que nunca sejam vítimas de um acidente criminoso como esses. Se depender de quem, de fato, deveria tomar os devidos cuidados e fiscalizar as construções irregulares, estamos mesmo perdidos. Que fique claro: esses casos não são fatalidades. Eles são crimes.

*Carlos Sinésio é jornalista com 35 anos de profissão. Trabalhou nos jornais O Globo, Jornal do Commercio e Diario de Pernambuco. Foi assessor de comunicação em diversas instituições públicas e privadas e repórter freelance no jornal O Estado de S. Paulo e na IstoÉ. Atua na TV Alepe.

Foto destaque: internet – Protestos relembram a tragédia ocorrida na Boate Kiss