A Campanha da Fraternidade 2021

Por

Enildo Luiz Gouveia*

Em 18.02.2021

Desde a década de 1960 a Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) no Brasil promove a Campanha da Fraternidade (CF). Estas CFs tratam dos mais variados temas e além de refletir sobre a realidade da Igreja e do Mundo, oferecem pistas de ações para superação dos sinais de morte que se apresentam na realidade. As CFs surgem como consequência da abertura da ICAR a partir do Concílio Vaticano II e mobilizam a Igreja especialmente no período da Quaresma.

Neste ano a CF é Ecumênica (CFE)  – a quinta com esta perspectiva – e tem como tema “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade” (trecho da carta aos Efésios) e é coordenada pelo Conselho Nacional das Igrejas Cristãs (CONIC). É um esforço ao diálogo e ação conjunta com vistas ao bem comum. Sem abrir mão de suas crenças e doutrina, cada Igreja cristã participante assume papel fundamental nesta campanha. Infelizmente, as Igrejas cristãs de orientação neopentecostal não participam. Creio que se achem mais “puras e fiéis” que as outras.

É preciso destacar sempre que o movimento de saída, de encontro com o outro/a, é sempre um encontro com o diferente. Neste encontro é preciso buscar e valorizar aquilo que é comum e não o diferente, sem, contudo, perder a identidade de cada um/a. Nenhuma Igreja participante do CONIC quer “converter” as demais. O que se busca apenas é a união naquilo que as une, ou seja, a crença em Jesus Cristo como único salvador. O que vem depois disso é doutrina específica que pode ou não convergir em vários aspectos.

Como era de se esperar, num país tão intolerante e avesso ao diferente como o Brasil, as críticas à CFE 2021 não demoraram a aparecer. As críticas quase sempre têm viés ideológico, pois, não podem ser contestados (no caso da ICAR) em sua doutrina uma vez que, os documentos produzidos para as CFs estão fundamentados e dialogam com a doutrina. Do contrário, sequer seriam publicados. O próprio Papa Francisco já enviou sua mensagem de apoio a CFE 2021.

Dentro da ICAR as críticas partem especialmente dos conservadores, ou melhor, dos reacionários tanto do ponto de vista político quanto religioso. Estes defendem que a ICAR promova apenas caridade e não a justiça social. Estes defendem que a Igreja cuide exclusivamente dela mesma enquanto os mesmos posam de arma em punho ao lado de políticos alinhados aos seus ideais.

É preciso lembrar que as CFs e especialmente esta de 2021, com caráter ecumênico, não se restringem apenas a reflexão. Existem ações concretas, inclusive com possibilidade de financiamento de projetos que visem promover o diálogo e a cooperação. Ninguém muda nada sozinho. Como diz um trecho do hino da CFE 2021 “Venham todos, vocês, venham todos, reunidos num só coração”. Que a próxima CFE não seja apenas ecumênica-cristã, mas que seja também inter-religiosa, agregando as religiões não-cristãs nesta grande unidade na diversidade para o bem comum.

*Enildo Luiz Gouveia é professor do IFPE, bacharelando em Teologia Católica e membro da Academia Cabense de Letras – ACL. Escreve às quintas-feiras.

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