Ociosidade juvenil é caso de política

Por

Jairo Lima*

Em 22.02.2021

Temos visto nas redes sociais uma grande repercussão acerca das aglomerações de jovens na Praça da 55 na Cohab, no Cabo de Santo Agostinho. Para uns é caso de polícia, pois entendem que só assim seria possível conter o barulho que se estende todos os fins de semana, varando madrugada a dentro, numa área circundada literalmente por residências, além de se registrar nas imagens que circulam nas redes sociais, a ausência quase que completa da máscara nesse momento delicado da pandemia. Há relatos vários do registro do uso de entorpecentes e álcool. Certa feita, recentemente, a Praça da Rua  55 se transformou num cenário de guerra, tendo a Polícia utilizado gás lacrimogêneo e até jato de água, tamanho o transtorno causado pelo ato festivo e espontâneo semanal.

A priori, iremos concordar com os moradores vizinhos, que ávidos pela paz e sossego, chamam a Polícia para conter esses encontros que segundo os mesmos, já reúne mais de 500 jovens. Ma, se colocarmos uma lente de aumento sobre a questão, veremos que esse não é o caminho mais sensato. Primeiro, porque seria, como se diz, enxugar gelo; a repressão jamais irá substituir ou transformar uma carência, uma falha do poder público, pela  falta de políticas públicas para a juventude, criando um vácuo, um abismo social que só será preenchido quando houver a devida atenção para esse segmento da nossa sociedade.

Há um equivoco por grande parte dos gestores que pensam enfrentar a problemática da ociosidade juvenil tão somente com oficinas artísticas, cursos básicos de digitação e noções superficiais de cidadania. Ora, o buraco é mais embaixo. É fato que os poderes públicos devem continuar com essas atividades lúdicas e educativas, mas apenas isso não dá conta da realidade em caráter efetivo.

As aulas de cidadania, de artes, de educação social, esclarecimentos dos malefícios das drogas são coisas necessárias para um ajuste, mas não a garantia da real transformação íntima. Nossos jovens de hoje – muitos deles – estão sem perspectivas de futuro, sendo levados pelas ondas digitais e glórias repentinas desses ambientes que agraciam uns poucos. Hoje é mais fácil pensar em ser um youtuber de sucesso do que conseguir um bom emprego estudando. Esses jovens precisam e merecem entrar em programas com perspectivas reais de emprego e renda e que deem sentido prático às suas existências.

Hoje é a Praça da Rua 55. Amanhã será a Praça Marcos Freire, no distrito de Ponte dos Carvalhos, a Praça do Jacaré, da 9 de Julho…aqui e alhures há uma juventude que grita sua dor através do que se costuma classificar como rebeldia.

Até que tudo mude, ainda será válido citar a frase que o o poeta e escritor Antonino Junior repetia: “O Cabo anda tão pobre que só tem dinheiro.”

*Jairo Lima é pós-graduado em Gestão Pública e membro da Academia Cabense de Letras.

Os textos aqui Publicados não refletem necessariamente a opinião do blog Falou e Disse.

Foto destaque: Canteiros da Praça da Rua 55 após fim de festa