Se Deus é bom, por que não criou os seres com bondade?

Por

Jairo Lima*

Em 24.02.2021

É muito comum nos depararmos com esse tipo de pergunta, como se Deus, a exemplo do engenheiro mecânico e empreendedor estadunidense Henry Ford, pioneiro na construção do carro em série, tivesse Ele também, o Engenheiro Universal criado a humanidade numa linha de produção seriada.

Uma das grandes expressões da inteligência Divina está justamente na diversidade humana e em cada um dos humanos a presença do gérmen do livre arbítrio. Somos todos originalmente criados simples e ignorantes e vamos nos construindo com as nossas experiências. Daí, ser um humano bom, por exemplo, é uma questão de escolha e a melhor prova disto é que temos pessoas boas e más, empáticas e antipáticas, solidárias e egoístas, centralizadoras e altruístas…

Ainda bem que somos diferentes nos gostos, nas aptidões e nas nossas escolhas, pois é justamente daí que advém o equilíbrio deste mundo. Da dona de casa ao cientista, do gari ao médico, do cético ao crente, do artista ao político… todos têm a sua importância na grande missão de tornarmos a vida uma coisa prazerosa.

Um violinista é capaz de sozinho executar uma belíssima ária; um guitarrista consegue desacompanhado ser magistral na execução de um lindo solo, mas nada se compara a uma peça executada por uma orquestra. E eis aí a estratégia fenomenal do nosso grande Regente, romper o barulho da crise existencial pela unicidade de propósito, soar os belos cantos na multiplicidade de tons e timbres para reverberar na acústica do coração de cada um. A homogeneidade é possível, mas na partitura da finalidade da existência humana.

Somos indivíduos, cada qual com seus direitos e deveres individuais e coletivos. Somos diferentes por resultado das nossas escolhas, mas somos iguais enquanto frutos de uma força criadora capaz de nos entender nas nossas falhas ao ponto de nunca nos negar os nossos méritos.

*Jairo Lima é poeta, artista plástico e membro da Academia Cabense de Letras.