Templo religioso aberto é uma questão de saúde pública
Jairo Lima*
Em 03.03.2021
Uma porta aberta à fé fecha janelas por onde entram invasores diversos.
Nunca o pensamento científico foi tão relativo como agora, na pandemia. O novo coronavírus o dividiu em diversos pedaços. Não há unanimidade sobre nada e ao menos uma corrente com teses ou opiniões majoritárias.
Para ilustrar, vejamos um deles: “Lockdown é perda de tempo e pode matar mais”, diz o cientista de Stanford, Prêmio Nobel de química. Ele acredita na volta à rotina, mas com máscaras. Já o seu colega de profissão, Neil Ferguson, um dos principais cientistas britânicos, defende o distanciamento social como política contra o coronavírus. Aqui vão só dois casos que apenas ressaltam o mistério que ronda o vírus e seu marco divisório na visão científica.
Mas não é para as divergências que esse artigo quer chamar a atenção. Na ciência, como em qualquer outro campo do estudo humano, sempre teremos posições díspares, divergentes e contraditórias. O que viemos aqui chamar a atenção é justamente para o que a ciência já tem, aí sim, por unanimidade, uma posição consolidada.
Aqui abordaremos o conceito de saúde preconizado pela constituição da Organização Mundial de Saúde (OMS): “Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a mera ausência de doença ou enfermidade”. Recentemente a OMS incluiu a espiritualidade no conceito em epígrafe. Pois bem, infelizmente o lockdown fecha os templos religiosos, desconecta o ser humano do exercício da sua fé cultivada e compartilhada nas casas religiosas.
Manter os templos abertos é, hoje, uma questão de saúde pública. Sabe-se, inclusive também pela ciência, que o estresse, a angústia, o medo, as duvidas…são ingredientes que causam danos à imunidade, deixando, portanto, as pessoas até mais suscetíveis aos malefícios da Covid-19.
O mundo está batendo recorde no consumo de ansiolíticos, porque não é fácil ficar 24 horas trancado sem sequer poder exercer o seu direito à saúde a partir da cultivação da própria fé. Seguindo as regras do distanciamento, mantendo-se respeito aos protocolos, os templos precisam abrir para que haja mais vagas nas UTI’s. Uma porta aberta à fé fecha janelas por onde entram invasores diversos.
Ter os templos religiosos em pleno funcionamento, por vezes é mais eficaz e muito mais barato do que abrir um hospital de campanha.
*Jairo Lima é poeta, artista plástico e membro da Academia Cabense de Letras.