Não é frescura, senhor presidente!

Por

José Ambrósio dos Santos*

Em 06.03.2021

Um total de 10.871.843 casos e 262.948 óbitos pela Covid-19, sendo 1.760 mortes nas últimas 24 horas. Não, não é frescura, senhor presidente! Se o senhor não lamenta essas mortes, não pense que os brasileiros assim também agem. Mesmo aqueles que o cercam onde quer que o senhor vá – muitos também sem máscaras, para lhe agradar e aplaudir as suas piadinhas sem graça e extremamente desumanas – choram a perda de parentes e amigos. Mas têm que louvar o “mito”. Não existe uma família brasileira – notadamente nas áreas urbanas – que ainda não tenha tido casos de contaminação e/ou morte pelo novo coronavírus entre seus entes.

E, sim, senhor presidente, as pessoas choram. O senhor pergunta até quando se vai ficar chorando sem mesmo se dar conta de que atravessamos a semana mais mortal da pandemia do novo coronavírus. E o senhor chama de covardes os brasileiros que choram as perdas sabidamente evitáveis e procuram se proteger.

Onde está a covardia? Em quem nada pode fazer além de buscar se proteger respeitando como podem e enquanto ainda podem, as regras recomendadas pelas autoridades sanitárias, ou naqueles que estão no poder e que, como o senhor, continuam negando a gravidade da pandemia e estão sendo responsabilizados pela calamidade de saúde pública vivida pelo país?

Não, senhor presidente, não é mimimi! As perdas são muito grandes, como grandes são as incertezas dos brasileiros que se ressentem de uma liderança comprometida com a solução dos problemas da nação, e não com os problemas familiares do clã Bolsonaro e dos seus íntimos.

Alertas e advertências para o caos instalado não faltaram. E foram emitidos logo no início da pandemia, que o senhor chamou de “gripezinha”. Alertas feitos inclusive por integrantes do seu governo, os quais o senhor preferiu dispensar, sob rompantes do tipo “quem manda sou eu”, próprios de quem duvida da sua própria autoridade.

Optou pelo desdém, pelo sorriso cínico e pelo desrespeito às medidas sanitárias adotadas por governadores e prefeitos – na ausência da autoridade nacional – estimulando as aglomerações, em vez de buscar a compra antecipada das vacinas – que o mundo científico anunciava para breve – como o fizeram países como o Reino Unido, o primeiro a iniciar a imunização do seu povo, ainda em dezembro do ano passado.

Enquanto escrevo este artigo, centenas de brasileiros estão sendo internados para se tratar da Covid-19, buscando desesperadamente fôlego, e outras dezenas dão os últimos respiros por meio de máquinas e sob o olhar de equipes médicas que tudo fizeram, mas acabaram vencidas pela “gripezinha”. Nas últimas 24 horas foram 75.337 casos confirmados. E 1.760 mortes, o que corresponde a 73,3 óbitos por hora, ou 1,2 falecimento por minuto.

O médico e neurocientista Miguel Nicolelis adverte que  nas próximas semanas o Brasil pode ultrapassar as 3 mil mortes diárias por Covid-19. Ele defende um lockdown nacional de 21 dias para frear a disseminação do vírus e evitar um colapso total do sistema de saúde. Nicolelis coordenou ao longo da pandemia o Comitê Científico do Consórcio Nordeste para a Covid-19, responsável por traçar previsões e orientar governadores da região.

*José Ambrósio dos Santos é jornalista e membro da Academia Cabense de Letras.

Foto destaque: jornaldebrasilia.com.br