Mulheres são minoria em fóruns climáticos, mostra levantamento
Observatório do Clima
Em 08.03.2021
No Dia Internacional da Mulher, Observatório do Clima (OC) lança site com conteúdos para ampliar debates sobre gênero e clima
Embora uma mulher, a sueca Greta Thunberg, seja hoje a face mais conhecida do ativismo climático no mundo, fóruns como a Convenção do Clima da ONU (UNFCCC) têm apenas 40% de suas cadeiras ocupadas por mulheres. No Brasil, em espaços como o Congresso, nos quais políticas públicas de clima são discutidas, menos de 15% das parlamentares são mulheres.
Essas são algumas conclusões de uma nota técnica produzida pelo Grupo de Trabalho Gênero e Clima, do OC e disponível no site do GT, lançado nesta segunda-feira (8), Dia Internacional da Mulher. Além de um levantamento sobre a presença das questões de gênero nas políticas climáticas federais, uma outra nota técnica apresenta subsídios para inserir a abordagem de gênero nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs).
O trabalho sugere maneiras de inserir abordagens de gênero e raça na NDC brasileira, fortalecendo medidas favoráveis às mulheres, respeitando a estrutura proposta pela primeira NDC brasileira. Além disso, são oferecidas sugestões apresentadas no Plano de Ação de Gênero e Clima da UNFCCC, as quais são relevantes por se tratar de um documento oficial da convenção.
O Grupo de Trabalho em Gênero e Clima, voltado à promoção do diálogo e ação em torno da temática, teve seus trabalhos iniciados em 2020. “O GT nasceu de uma demanda da própria rede e é o local onde se encontram duas das mais urgentes e importantes pautas da sociedade: clima e gênero”, afirma Marcio Astrini, secretário-executivo do OC. “A agenda de clima só terá sucesso se tivermos vozes femininas cada vez mais ativas e representativas.”
Segundo Astrini, este é o maior grupo de trabalho do OC, com mais de 120 pessoas, entre integrantes da rede e convidadas. Seus principais focos são a justiça climática e as políticas de clima, atuando em ações de formação e fortalecimento institucional, articulação, incidência, produção de conhecimento e comunicação.
Quem explica por que esta é uma questão de governança climática é Adriana Ramos, da coordenação do Observatório e diretora de política ambiental do Instituto Socioambiental (ISA): “Nós chegamos ao problema das mudanças climáticas em um mundo liderado majoritariamente por homens brancos. A solução do problema passa por uma mudança nessa condução.”
Todos os trabalhos desenvolvidos buscam partir de um olhar interseccional: considerando as diferentes realidades. Características que se relacionam com gênero, como classe, raça, etnia, região geográfica e outras, influenciam a experiência e as oportunidades do ser mulher dentro da agenda do clima. Como ressalta Ramos, não há hipótese de superação da crise climática sem incluir essas diferentes perspectivas.
O grupo se propõe a ser um espaço onde saberes acadêmicos, científicos e empíricos convergem, segundo aponta Sarah Marques, integrante do GT e fundadora do Coletivo Caranguejo Tabaiares Resiste, de Recife. “Quem sente na prática entende o impacto das mudanças climáticas. Muitas vezes, quando se discute meio ambiente, se esquece do povo que está nesse ambiente. O GT é um local para mostrar essa realidade.”, ela diz. “É primordial perpassar pelas questões sociais e de interseccionalidade se pretendemos delinear ações ambientais sustentáveis efetivas, inclusivas e justas”, completa outra integrante do GT, Ellen Accioli, da Associação de Mulheres Indígenas Suraras do Tapajós.
Acesse o site do GT Gênero e Clima aqui.
Foto destaque: Cherwell.org – A ativista Greta Thunberg com sua placa de “greve escolar pelo clima”