Covid-19 provoca primeira morte no Parque do Xingu, um bebê kalapalo
Rubens Valente – Colunista do UOl
Em 14.06.2020
Um bebê kalapalo de apenas 45 dias é a primeira morte registrada entre os indígenas na terra indígena do Xingu, em Mato Grosso. De acordo com uma nota divulgada neste domingo (14) pela secretária municipal de Saúde de Querência (MT), Lubiane Boer, a criança estava internada em Cuiabá (MT) e morreu na noite de sábado (13) por “síndrome respiratória aguda e Covid-19”.
Há outros dois casos confirmados da doença dentro do parque xinguano, segundo o boletim do Ministério da Saúde atualizado na noite de sábado. O bebê é neto do cacique Vanité Kalapalo, da aldeia Sapezal, que também tem sintomas da Covid-19 e está isolado no interior da terra indígena depois de ter sido atendido no hospital de Água Boa (MT). O pai do bebê, Adolfo, também está sob suspeita de ter contraído a doença, mas um segundo teste deu negativo para a doença. Os pais e o bebê que morreu são da aldeia Tanguro.
A criança havia sido transferida no dia 12 de junho de avião do hospital de Água Boa, onde estava internada após apresentar os sintomas da doença, para uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) de Cuiabá (MT). A transferência de Água Boa, que não possui UTI, só ocorreu após uma decisão da Justiça Federal que acolheu um pedido do Ministério Público Federal.
Criado em 1961, com 26 mil km², do tamanho de Ruanda, o Parque Indígena do Xingu – que lideranças indígenas querem que passe a ser chamado de Terra Indígena do Xingu por rejeitarem a expressão “parque” – é habitado por índios de 16 etnias: aweti, ikpeng, kaiabi, kalapalo, kamaiurá, kisêdiê, kuikuro, matipu, mehinako, nahukuá, naruvotu, wauja, tapayuna, trumai, yudja e yawalapiti.
Pela primeira vez, neste ano o ritual tradicional do Quarup, no qual os indígenas homenageiam seus mortos, foi cancelado em todas as aldeias da terra indígena a fim de tentar conter o alastramento da doença. As lideranças da ATIX (Associação Terra Indígena Xingu) têm gravado áudios e vídeos com orientações para os cerca de 7 mil indígenas que habitam o parque, a fim de evitar deslocamentos e contatos sem proteção.
Um comitê de crise foi criado pela ATIX, Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), ISA (Instituto Socioambiental), SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina), Distrito Sanitário Especial Indígena Xingu e coordenação nacional do Xingu, da Funai. O objetivo é reunir recursos próprios para aquisição de equipamentos de proteção individual e alimentação, entre outros itens.