Páscoa na pandemia

Valéria Saraiva*

Em 04.04.2021

Hoje recebi uma mensagem de uma amiga minha. Ela perdeu o bebê que estava esperando com sete meses de gravidez. O bebê parou de mexer na barriga, ela procurou o médico, fez um ultrassom e descobriu que ele estava morto. Teve que se internar no hospital para fazer indução do parto e poder retirar o feto morto. É triste passar por todo o processo do trabalho de parto e não ter uma criança pra abraçar depois.

Foi um sonho que se foi. O bebê inexplicavelmente parou de se mexer e morreu. A gravidez estava normal. Tinha tudo para nascer saudável. Mas não sabemos os desígnios de Deus. Ela está de luto. Era uma menina. O primeiro filho foi um menino que está com um ano de idade.

Eu disse pra ela: – Vivencie esse luto. Você precisa passar por isso. Não se entregue. Você tem outro filho que precisa de você.

Estamos passando por uma pandemia, mas a vida segue. As pessoas casam, têm filhos.

Fiquei noiva, mas quero esperar um pouco para casar. Quero que passe um pouco tudo isso. Queria viajar de lua de mel, mas, com esse vírus circulando, fica complicado. Parece que a cada dia que passa a pandemia fica pior.

Ontem fui ao cemitério visitar minha Mãezinha que faleceu em dezembro. O que a gente mais vê são sepulturas de 2020 e 2021. Esse vírus está levando muita gente. Fiz uma oração, acendi uma vela e pedi proteção a ela.

Meu noivo não chegou a conhecer a minha mãe. Ela teria gostado dele. Ela era tão alegre. Sei que já passaram quase quatro meses, mas a dor é a mesma. Sinto tanto a sua falta Mãezinha. A senhora gostava da família reunida. Agora na Páscoa, sei que iria querer comer bacalhau e iria pedir que eu fizesse sua sobremesa preferida, pudim de leite. É tão triste passar a primeira Páscoa sem você. Mas temos que seguir em frente.

Você teria gostado do pavê que Natércia fez e do bacalhau de Verinha. Aprendi a fazer peixada. Vou fazer uma hoje, Domingo de Páscoa. Acho que você iria adorar. Tereza está aqui, Mãezinha. Ela foi comigo e com Natércia ao cemitério. Sentimos tanta saudade de você…

Minha amiga vai se recuperar, ela tem toda uma vida pela frente. Nós também temos. E temos as lembranças que vão nos acompanhar para sempre. Tudo é tão diferente sem você Mãezinha. Onde estiver, olhe por nós.

*Valéria Saraiva é enfermeira, poetisa, cronista, autora do livro “Lírios, Tulipas e escorpiões” e membro da Academia Cabense de Letras.