Cenários de uma velha vila
Andréa Galvão*
Em 27.04.2021
As luzes da urbe, bem como seu cotidiano agitado, impedem que nos deleitemos com as singelezas que nos cercam. Nessa conjuntura pandêmica, acredito que seja uma opção a considerar! Exercitar o olhar para o que está próximo, trivial, simples e por que não dizer, bonito? Talvez essa seja a terapia medicamentosa para restabelecer a nossa saúde mental em decorrência do medo, da incerteza e das perdas constantes.
Sempre fui apreciadora das paisagens em vários recantos do mundo, ainda que eu não as conheça de perto. Admiro o desenho urbanístico e os monumentos de Paris, as casas coloridas, estreitas e com telhados em duas águas que margeiam um rio límpido na charmosa Amsterdã, o litoral do meu Pernambuco com suas praias de água morna e areia macia – com este tenho intimidade… Tudo isso produz em mim um encantamento que excede as medidas.
Todavia, ressalto que não me sinto menos extasiada quando percorro dezoito quilômetros tendo por pano de fundo a Serra do Ororubá. São minutos preciosos em que os pássaros se unem em cantos melodiosos, vales e montes namoram e o doce perfume das flores silvestres se propaga pela sinuosa estrada.
O destino final é a Mui Real Vila de Cimbres com seus resquícios de um passado pomposo. Recuso-me a adjetivá-la de decadente, nunca! Ela é apenas uma mãe que depois de ter visto os filhos crescerem, prosperarem e adquirirem vida própria, quer apenas se recostar numa cadeira e repousar quieta.
A genitora da minha amada Pesqueira continua imponente e muito sábia, e tem o luar mais luminoso que já vi. Ela é a guardiã das grandes histórias da nossa gente, das nossas raízes étnicas e culturais. É a dona dos mais belos cenários que só os olhares sensíveis são capazes de captar.
*Andréa Galvão é professora de Língua Portuguesa e Arte no Colégio Santa Dorotéia, revisora ortográfica e redatora. É membro da Sociedade dos Poetas e Escritores de Pesqueira e da Academia Pesqueirense de Letras e Artes.