A terceira via

Por

Carlos Sinésio*

Em 27.04.2021

Caso as candidaturas de Bolsonaro (sem partido) e de Lula (PT) se confirmem para disputar a Presidência  da República no próximo ano, a eleição tende a ficar polarizada, diante das dificuldades encontradas por quem pretende se apresentar como terceira via. Serão duas candidaturas extremistas, sustentadas por eleitores radicais que não se suportam e não se respeitam. Isso vai fazer com que a disputa possa ganhar ares de guerra nas ruas e, claro, nas redes sociais.

Uma recente pesquisa publicada pela revista Exame (instituto Ideia) aponta que Lula e Bolsonaro (PT) são os candidatos com mais chances de disputar um segundo turno. Porém, para 38% dos eleitores, nem um nem outro deveria ser o próximo presidente. Essa rejeição revela que há espaço para outra alternativa, o que agradaria bastante esse eleitorado.

Mas uma candidatura de centro deverá encontrar imensas dificuldades para se impor, conquistar significativo número de eleitores, empolgar os que não votam em Bolsonaro nem em Lula e conseguir uma vaga em um possível segundo turno. Isso porque tem muitos nomes interessados nesse eleitorado que não quer os dois pré-candidatos. Entretanto, ninguém quer abrir mão de uma candidatura em nome da unidade que lance uma terceira via realmente competitiva.

O governador paulista João Dória (PSDB), o apresentador Luciano Hulk (sem partido), o governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB), o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), o ex-juiz Sérgio Moro (sem partido), o deputado e ex-ministro Mandetta (DEM) entre outros, são nomes lembrados para concorrer. Porém, eles têm pensamentos, ideias e interesses muito divergentes e são, acima de tudo, ambiciosos. Por isso, não estão muito dispostos a abrir mão em nome de outro, se unir e lutar para construir uma candidatura eleitoralmente viável, capaz de sensibilizar o eleitorado que não se identifica com o lulopetismo e o bolsonarismo.

Daqui a pouco mais de um ano, a campanha política oficial estará nas ruas e na mídia. Pode ser muito tempo para certas coisas, mas é pouco para outras, quando se trata de política. Lula já foi cinco vezes candidato e duas vezes presidente. Assim como Bolsonaro, o atual inquilino do Palácio do Planalto, ele está diuturnamente na mídia. Os dois são os nomes mais conhecidos pelos eleitores de todo o País e por isso levam grande vantagem sobre outros pretendentes.

Como existe um percentual grande de brasileiros que não querem Lula nem Bolsonaro, caso surja um nome com credibilidade, que empolgue, com uma mensagem de entendimento e unidade, ele poderá construir uma candidatura capaz de chegar ao segundo turno. E lá chegando, aí sim, terá boas chances de vencer a eleição, já que o eleitor de Lula não vota jamais em Bolsonaro e vice-versa.

Diz um ditado popular que quem é coxo larga cedo. Neste caso, o coxo seria essa terceira via, a qual precisa partir o quanto antes para ganhar terreno. Precisa imitar a tartaruga da fábula que venceu a corrida para a lebre que esnobou confiança, foi arrogante, prepotente e ignorou a inteligência e a capacidade da adversária.

Como é realmente muito expressivo o eleitorado que não quer Lula nem Bolsonaro, a terceira via pode ser viabilizada. Mas, para isso, precisa trabalhar muito, ser mais rápido e levar a sério a recomendação feita pelo adágio popular a quem é coxo.

*Carlos Sinésio é jornalista pesqueirense, 35 anos de profissão, poeta, escritor. Trabalhou no Globo, Jornal do Commercio e Diário de Pernambuco. Foi assessor de comunicação em instituições públicas e privadas e repórter freelance no jornal O Estado de S. Paulo e na IstoÉ. Atua na TV Alepe.

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