“Cum dixerint pax…”

Por

Jénerson Alves*

Em 30.04.2021

Quando disserem: “há paz”, mas os jovens ainda forem extremamente mal-educados, sem significados, sem sonhos, sem altruísmo, o mundo permanecerá sendo um barril de pólvora, pronto para explodir a qualquer momento.

Quando disserem: “há paz”, mas os idosos ainda forem lançados em um calabouço social, de modo que os cabelos brancos deixem de representar respeito e serenidade e passem a ser coisa alguma, esta paz dita será apenas um engodo, uma falácia, uma fantasia.

Quando disserem: “há paz”, mas as crianças ainda forem desorientadas, deseducadas, desestimuladas, o que haverá será apenas um estado de letargia, de esvaziamento, de desesperança.

Quando disserem: “há paz”, mas a alma das pessoas ainda não for o foco das ações dos líderes – de qualquer instância, seja ela municipal, estadual, federal, institucional, sindical, ou qualquer outra –, o que haverá tão-somente será calmaria, massificação, controle.

Quando disserem: “há paz”, mas a categorização das pessoas ainda permanecer, de modo que o ser humano acredite ser capaz de distinguir quem é quem – ou como se as configurações étnicas, estéticas, religiosas, filosóficas, políticas ou familiares fossem conceitos fechados que delimitam os espíritos –, o que haverá não passará de tola tolerância.

Quando disserem: “há paz”, mas os corações ainda estiverem militarizados com ódio, rancor, preconceito, autossuficiência, egoísmo, soberba e ganância, as armas exteriores permanecerão sendo representações materiais de armas interiores, venenos que matam sutilmente, quebrando e rachando relações externas e internas, desumanizando o alvo e o cerne.

Quando disserem: “há paz”, mas essa paz não vier de dentro para fora, não for produto da consciência, não nascer da essência e do espírito, não exceder todo entendimento, todo contexto, toda particularidade da existência, essa paz não será verdadeira. E se precipitará repentina destruição… Ainda muitas águas correrão por muitas pontes, e o que virá ainda não será o que se espera. Só haverá paz quando for possível enxergar além do véu. Mas, há quem queira enxergar?

*Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel. Escreve às sextas-feiras.

Foto destaque: Sasin Tipchai/Pixabay