Encontrado
Jénerson Alves*
Em 14.05.2021
Noite fria. Rua deserta. Ecos de um choro sofrido. Contido. A linguagem de quem nada sabe falar.
Para que palavras? Ele era o próprio texto!
Esquecido… Ou melhor… Rejeitado. Abandonado. Perdido. O ventre que o gerou também deu-lhe carta de repúdio.
Que ventre o teria parido? Que homem o teria gerado? Indagações que se tornam vazias…
A realidade é que não fora querido. Não fora amado. Não fora desejado. Não fora sonhado.
Um presente que indica um passado, apontando para um futuro não-projetado.
Ei-lo. Ao léu.
Alguém ouvirá seu pranto? Virão os animais devorá-lo? O frio congelará seu corpo frágil?
Quem é ele?
Apenas um substantivo comum. Sem nome. Nem sobrenome.
Então, chora. E chora. E chora. O que lhe resta é chorar…
Seu choro vibra no ar, como quem bate desesperado em uma porta. E chega aos ouvidos dela.
E dos ouvidos, alcança o coração.
E ela se levanta, guiada pelo som do pranto que não cessa. Guiada pela voz do coração que não se fecha.
E o vê.
E o ama.
E o acolhe.
Dona de um ventre que jamais gerará. Dona de uma alma que jamais deixará de amar.
– Dorme, filho. Tens meus braços.
Assim, ele encontrou Deus – que é Pai, mas se esconde no amor de uma Mãe.
*Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel. Escreve às sextas-feiras.
Foto destaque: Findelkind, de Gabriel von Max
Adoro esses textos gostosos de ler, todos da lavra de Jenerson Alves.