Cordel em Caruaru: 16 séculos em 16 anos

Por

Jénerson Alves*

Em 21.05.2021

A Academia Caruaruense de Literatura de Cordel (ACLC) completou 16 anos no último dia 18 de maio – mesma data em que celebrou-se 164 anos da emancipação política da cidade-natal. Devido ao atual momento, os poetas realizaram uma live pelo YouTube e lançaram um documentário (ambos disponíveis no canal ACLCCARUARU). Em pouco mais de uma década e meia, esses artistas têm unido forças ao levar a mensagem da Literatura de Cordel aos mais diversos rincões, sobretudo estimulando as novas gerações a perpetuar esta rica cultura, ressaltando o legado dos notáveis mestres que despontam no gênero.

De certa forma, a ACLC é anterior a Caruaru. Esta pode parecer uma afirmativa ousada – ou, até, irracional. Permitam-me explicá-la. Arraigada à Literatura de Cordel, há essências vibrantes que advêm de tempos imemoriais. É claro que o Cordel, conforme concebido atualmente, remete principalmente às produções do século XIX, com nomes como João Martins de Athayde, Leandro Gomes de Barros, Silvino Pirauá de Lima e Francisco das Chagas Batista. Sabe-se, porém, que tais obras têm influências de produções portuguesas do século XVI, quando já se contavam histórias como as de João de Calais e da Donzela Teodora.

Mesmo assim, se fizéssemos uma viagem no tempo, veríamos na Idade Média o florescer das cantigas dos trovadores e dos romances cavalheirescos. Os poetas do período beberam em fontes bizantinas e na mitologia grega, quando cantaram heróis, como Alexandre e Carlos Magno, e sábios, como Aristóteles e Virgílio. Também vê-se versões e variantes de lendas cristãs, com histórias fantásticas envolvendo figuras como São Patrício, São Francisco e São Martinho. Nesta mesma seiva criadora, há vestígios das obras de Gil Vicente, Balthazar Dias e de cancioneiros como Vaticana e Dom Dinis.

Tal fenômeno é encontrado nos mais diversos povos, em que suas poesias populares têm aspectos de similitude. A versificação vem do gênio da língua. As criações individuais bailam com a coletividade e ganham vida própria. Assim, a ACLC torna-se um símbolo do que Teófilo Braga já constatava: “Os cantos populares (…) não envelhecem; vão insensivelmente acompanhando as evoluções da língua e dos costumes”.

*Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel. Escreve às sextas-feiras.

Foto destaque: Joyce Sueely.