Semana do Meio Ambiente 2021: Reimagine. Recrie. Restaure!
Enildo Luiz Gouveia*
Em 03.06.2021
É preciso frear a boiada antes que ela passe e nos reste apenas a terra arrasada.
Em 1972, por ocasião da Primeira Conferência Mundial sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, realizada em Estocolmo, na Suécia, a Organização das Nações Unidas (ONU) propôs o dia 05 de junho como o Dia Mundial do Meio Ambiente. A semana que antecede este dia costuma ser dedicada às mais variadas atividades, e assim, ao invés de apenas um dia, temos uma Semana do Meio Ambiente.
Este ano a Semana do Meio Ambiente tem o tema Reimagine, Recrie, Restaure. É um apelo voltado principalmente à restauração de ecossistema. Diante dos desafios ambientais postos, precisamos destacar alguns pontos importantes. Primeiro, a urgência ambiental existe e afeta a todos, mas não afeta a todos de forma igualitária. Em outras palavras, uns sofrem mais ou sofrem menos, ou não sofrem. Em outras palavras, os impactos ambientais afetam muito mais os pobres que os ricos, mostrando assim que a questão ambiental é uma questão também de distribuição de renda e luta de classes.
Segundo ponto é que a responsabilidade pelos impactos não pode ser atribuída igualmente para todos. Uma vez que o problema passa pelo consumo (de bens, de água, de energia, etc) a responsabilização deve ser maior para os que produzem e/ou consomem mais. Neste sentido, os países tidos hoje como desenvolvidos têm muito mais responsabilidade pelo quadro atual, bem como responsabilidade maior com relação ao quadro futuro.
Terceiro ponto diz sobre a fome. Não se pode pensar em exigir daqueles/as que têm fome, consciência de coisa alguma. A fome tem pressa e é um dos principais problemas socioambientais da atualidade. Sobre isto vale destacar que apesar de tudo, ainda se produz alimentos suficientes para toda a população mundial atual, mas, contraditoriamente, há milhões de famintos. A espécie humana é a principal responsável pela degradação dos ecossistemas, pondo em risco sua própria espécie e as demais. Ao mesmo tempo, a espécie humana é capaz de refletir e desenvolver tecnologias e produtos que impactem menos e recuperem parte do que foi destruído. Se por um lado temos tal capacidade, por outro não temos vontade política para mudar. Sucumbimos facilmente aos apelos consumistas e cultuamos o desperdício.
Desmatam, matam e expulsam animais e indígenas de suas terras, do seu habitat, do seu ecossistema.
No caso específico do Brasil atual, temos um fato inusitado: o ministro do Meio Ambiente, investigado por crimes ambientais no Brasil e nos EUA. Isto diz muito da falta de vontade política e da hipocrisia reinante do atual governo brasileiro. O país rico em diversidade enfrenta hoje o avanço do capital representado pelos latifundiários, madeireiros, mineradoras e grileiros sobre as terras indígenas com as bênçãos de parte do governo. Desmatam, matam e expulsam animais e indígenas de suas terras, do seu habitat, do seu ecossistema.
Enquanto o Meio Ambiente for encarado como algo selvagem, externo, estranho à nossa natureza humana, não teremos como superar tal situação que coloca nossa própria existência em risco. É preciso frear a boiada antes que ela passe e nos reste apenas a terra arrasada.
*Enildo Luiz Gouveia é professor, teólogo, poeta, compositor e membro da Academia Cabense de Letras – ACL.
Este texto não reflete necessariamente a opinião do blog Falou e Disse.
Foto destaque: Poder360