Marco Maciel e o ‘matador’ do Sport (Memórias de Redação)

Por

Ciro Carlos Rocha*

Em 16.06.2021

O ex-vice-presidente da República Marco Antônio de Oliveira Maciel sempre será lembrado como um político sensato, gentil, discreto, conciliador e com perfil ideológico bem definido, um conservador aberto ao diálogo e bom articulador. No meio jornalístico, ainda, como uma figura difícil de “dar um lide”, uma informação boa para uma manchete de jornal.

De temperamento amigável, mantinha a tradição de, aos finais de ano, visitar as redações dos jornais para desejar feliz Ano Novo a todos – executivos, editores, repórteres, pessoal da recepção, quem encontrava. E eram muitos, pois fazia questão de passar por todos os setores da redação, cumprimentando um a um, depois da conversa com os diretores .

Numa dessas visitas, na antiga redação do Jornal do Commercio da Rua do Imperador, um fato curioso, de certa forma, serviu para acentuar ainda mais o perfil de serenidade de Maciel. Dessas curiosidades que misturam política, futebol e bastidor do jornalismo. Com uma boa pitada de bom humor, que só de cara feia ninguém merece.

Estávamos em 1999. Ano em que o então prefeito  Roberto Magalhães – uma cria política de Maciel – havia entrado no JC, armado, para tirar satisfação com o colunista Orismar Rodrigues, irritado com um notinha publicada a respeito do que se convencionou chamar  de “Pirocão de Brennand “, a famosa obra Torre de Cristal, de Francisco Brennand, no Marco Zero. Um destempero sem tamanho, ainda mais com o sempre gentil Orismar.

Pois bem, mesmo que tenha sido uma senhora pisada na bola de ‘Bob Magal’, onde é que entra o futebol aí?  Acontece que naquele 99  o Sport fez uma campanha miserável no Brasileirão, uma campanha pra lá de chinfrim, ficando na última colocação entre 22 clubes da primeira fase, apenas 17 pontos conquistados. E o noticiário esportivo colocava sempre que o time precisava de um atacante “matador”, um centroavante nato que colocasse a bola no gol. Para alguns, esse era o maior problema do time.

Pois não é que esse problemão do glorioso Sport serviu de mote para o chargista Miguel Falcão? Da lavra do impetuoso e irreverente Miguel saiu uma charge com nada menos que ‘Bob Magal’ de cartucheira e tudo sendo apresentado como a solução, o atacante “matador” que o Leão precisava, a opção de goleador para resolver o problema da falta de gols (ou tiros?) do clube. Só que, desta vez, o bom humor do chargista terminou não passando pelo crivo da direção  do jornal, que optou por não publicar a tal charge do ‘matador’.

Figurinha do Álbum de figurinhas Santa Cruz, 100 Anos de Paixão (2014), da Panini

Mas ocorreu que uma cópia do desenho ficou um tempão colada próxima à Editoria de Esportes junto com outras ilustrações. E não é que foi exatamente nela que Marco Maciel pregou os olhos ao passar pela área, na visita tradicional de boas festas? Parou e ficou com o olhar fixo na charge, por um bom tempo. Momento que esse repórter, também na área, se afastou um pouco e ficou de butuca pra ver se tinha alguma reação. Mas o tricolor Marco Maciel apenas olhou e, como era do seu estilo, não esboçou nenhuma reação, não entrou em polêmica. Saiu de fininho, como sempre.

*Ciro Carlos Rocha é petrolinense de Juazeiro da Bahia, um pernambucobaiano, portanto, e atua no jornalismo faz um tempinho, hoje no setor de Rádio da Alepe. Torcedor do Sport Club do Recife e simpático ao Vitória da Bahia, quer sempre atacantes goleadores – e não matadores – nos clubes do coração.

Este texto não reflete necessariamente a opinião do blog Falou e Disse.

Foto destaque: Panfleto da campanha de Marco Maciel ao Senado pela União por Pernambuco, em 2002.