A naturalização da morte

Por

Jairo Lima*

Em 19.06.2021

Estamos sendo contemporâneos de uma experiência estranha, inusitada e até assustadora. Um processo de naturalização da morte. Sim, naturalização. A pandemia quase que diariamente nos traz, aqui e acolá, notícias do falecimento de alguém, ao ponto talvez de as nossas memórias não registrarem devidamente cada partida, de maneira que nos lembremos futuramente de cada uma. De cada conhecido(a), amigo(a), querido(a), parente…

A morte, apesar de nos ser um evento inevitável, é sempre ideia que nos passa à distância. Sob o discurso de se tratar de algo mórbido, a recusamos quase que instantaneamente em qualquer roda de conversa, e muito mais a divagarmos pessoalmente sobre a mesma com suas possibilidades finais por aqui.

Acontece que a naturalização da morte é um atestado de amadurecimento da humanidade. Civilizações antigas orientais, por exemplo, até hoje encaram a morte como um processo natural da própria evolução de cada um. morte do corpo físico é fenômeno natural que atinge todos os seres da Criação, cedo ou tarde.

Muitos nos perguntamos se o momento da morte é dolorido e sofrível, como se o desenlace fosse do corpo para o espírito, mas que na verdade, tá no processo inverso esse fenômeno, ou seja, o espírito (o que verdadeiramente somos) é o que se desembaraça do corpo físico (a veste que deixaremos por aqui). Daí as impressões sentidas estarem intrinsecamente ligadas, cada célula, aos nossos sentimentos, ao nosso psiquismo, à forma e ao estilo de vida que optamos.

Portanto, somos aquilo que pensamos, nos construirmos mentalmente a cada minuto de (ir)reflexão. Cada vez que nos alimentamos de pensamentos estamos nos fortalecendo ou nos enfraquecendo para um amanhã sempre incerto, mas que nunca deixa de alvorecer. Daí que Jesus, bem lá atrás, já nos alertou: Orai e vigiai.

*Jairo Lima é poeta e artista plástico. Membro da Academia Cabense de Letras.