O nosso medo do invisível

Por

Jairo Lima*

Em 23.06.2021

Fomos educados para temer tudo aquilo que os nossos olhos não alcançam e/ou desconhecem; às sombras, aos vultos, às luzes, até mesmo aos sons que nos rodeiam 24 horas por dia. Somos cegos e surdos. Um medo descabido. Entretanto, é no silêncio que a vida se constrói, se ergue e cresce. O que ouvimos e vemos corresponde apenas a uma pequena parte da vida prática, da verdadeira vida. O mundo não é um vácuo, uma imensidão vazia onde o nada seja tudo ou coisa alguma.

O que difere o homem comum do desbravador é justamente a capacidade do segundo, mesmo absorvendo a cultura do medo do desconhecido como o seu semelhante, é impelido a ir além do além, a acreditar ser muito pouco para justificar a nossa existência os fatos e cenários tangíveis e perceptíveis à nossa miopia existencial.

Não somos edificações de carnes, fibras, células meramente estruturadas num complexo arquitetônico de ossos, irrigados por veias tingidas por um plasma avermelhado. Tudo isso após exaurirem as energias vitais, vira um amontoado de lama escura que sacia a fome de bactérias, simplesmente. Como então vivermos pensando ser a vida apenas uma partitura dissonora de um Todo Maior? Ah, essa nossa vã filosofia, orgulhosa e pretensiosa, até hoje nada explica, se resumindo a achar sermos, portanto, à parte de uma grande e bela sinfonia que os nossos ouvidos não alcançam. Além de cegos, ousamos continuar surdos!

Ao nosso redor borbulham energias, circulam ventanias imperceptíveis aos olhos nus e insensíveis, mas que nos sacodem, influenciam e até chegam a nos determinar sobre atos e ações. Podemos ser manipulados sem sequer nos darmos conta dessas manipulações que sofremos diariamente. Obviamente que nada também segue aleatoriamente, transcursa ao sabor do vento. É preciso, antes de tudo, que uma sintonia seja estabelecida. Somos um extrato diário daquilo que todos os dias pensamos, queremos e alimentamos.

Se ao menos imaginas coexistir um mundo paralelo; se as suas mais sutis percepções conseguem ler páginas ocultas; se os seus sentimentos lhe remetem a questionamentos razoáveis sobre o que és, para onde vais e o que fazes por aqui… tudo então lhe trará um sentido tão lógico quanto as interrogações sobre a existência de Deus, tão oculto, tão invisível e intangível mas, ao mesmo tempo, tão próximo de cada coração que basta pulsar apenas um pouquinho mais forte e eis que a sua presença é a maior de todas as certezas, que não ousamos questionar.

De agora por diante, caso ainda não o faça, ouse olhar tudo com a alma, escutar com o coração e sentir o toque das mãos divinas que sempre repousaram sobre as nossas faces. Sintamos Deus e tudo aquilo mais que Ele dispôs a nos circundar a vida. Ela, a vida, é tudo isso e certamente muito mais.

*Jairo Lima é poeta e artista plástico. Membro da Academia Cabense de Letras.