É o espírito que conduz o mundo, não a inteligência

Por

Jairo Lima*

Em 11.07.2021

O ser humano não se torna virtuoso e pronto. A virtude tem que ser a história desse Ser. É a condição virtuosa do ser humano que vai fazer de nós seres excelentes

Pode até soar como clichê, mas inicio aqui repetindo a velha frase atribuída, com propriedade, a um sábio (Sócrates, filósofo grego do século 5 a.C), que certa vez disse: “Só sei que nada sei”.

Há por parte de muita gente uma grande confusão quanto ao conhecimento intelectual e a sabedoria. O primeiro é fundamental ao desenvolvimento humano, pois torna  o homem capaz de criar, formular, reinventar, transformar…confirmando a nossa capacidade de irmos até muito, mas muito além de onde já chegamos.

Quanto à sabedoria, farei outra citação, desta feita do escritor francês Antoine de Saint-Exupéry – a qual também dá título a esse artigo – quando diz: “É o espírito que conduz o mundo, não a inteligência'”. Está aí o que devemos considerar uma frase sábia. O escrito dá ao espírito o seu verdadeiro atributo e capacidade. A inteligência conduz o homem aqui na terra, ao passo que a sabedoria o conduz ao encontro da sua própria essência, ou seja, ao espírito.

Nessa minha vivência de pouco mais de 50 anos, conheci e vi escritos e pessoas reais tomadas pela arrogância, porque se consideravam e se consideram intelectuais, às vezes chegando até mesmo a se olharem de maneira narcisística e até como semideuses. Entretanto, quando vejo tantas teses que a história literalmente já derrubou, quando percebo a hipocrisia nas retóricas, principalmente na política, quando vejo esses mesmos intelectuais se contradizendo – uns menos orgulhosos, até admitindo hoje negar o que defendia no passado – talvez virando sábios. Ainda, lamentavelmente, vendo suicidas que em vida foram muito inteligentes, mas que devido o vazio na alma resolveram mudar o endereço dos seus sofrimentos, não tenho, como aprendiz, como deixar de pensar filosófica e moralmente sobre o que sou, pra onde vou, o que devo fazer por aqui.

Há sábios tão desprovidos da inteligência intelectual que são tão bem resolvidas como pessoas humanas, felizes, que tornam quem está ao seu derredor também pessoas felizes, que fazem a gente pensar: Não é que uma coisa (intelectualidade), apesar de parecer com a outra (sabedoria), são coisas bem diferentes?

Se estamos em constante evolução, como atestam as religiões e também nos prova a ciência, é de, no mínimo, ser digno nos curvarmos diante da humildade, cônscios de que não temos a última palavra em nada, que o grito da nossa verdade só faz estourar tímpanos e nada mais. Cada um traz na bagagem seu cabedal de experiências e conhecimentos, mas nem sempre traduzidas em desenvolvimento do intelecto, embora podendo ser altamente potente na sabedoria.

A sabedoria nos leva à conquista das virtudes que representam a verdadeira purificação. Assim estaremos imitando Deus para conseguirmos assimilá-lo em nossa trajetória. Para sermos sábios devemos ser pessoas virtuosas, estabelecendo em nossas vidas a ordem, a harmonia e o equilíbrio. O ser humano não se torna virtuoso e pronto. A virtude tem que ser a história desse Ser. É a condição virtuosa do ser humano que vai fazer de nós seres excelentes

Ter essa compreensão nos torna mais tolerantes, menos vaidosos e arrogantes… nos permite o desenvolvimento da alteridade e da empatia, coisas tão necessárias hoje em dia.

O desenvolvimento intelectual não implica a necessidade do bem. Um Espírito superior em inteligência pode ser mau. Isso se dá com aquele que muito tem vivido sem se melhorar: ele apenas sabe”.

Allan Kardec

*Jairo Lima é poeta, artista plástico e membro da Academia Cabense de Letras.

Foto destaque: Internet