Jovens brasileiros nas Olimpíadas de Tóquio

Por

Mirtes Cordeiro*

Em 09.08.2021

Fortalecendo a juventude estaremos de fato fortalecendo a democracia.

Quem são os jovens brasileiros que foram às Olimpíadas de Tóquio e voltaram com suas medalhas para imensa satisfação e orgulho de suas famílias e honra do povo brasileiro?

Geralmente são jovens que vêm das periferias urbanas ou pequenas cidades, com algumas exceções, e conseguem chegar às olimpíadas com muito esforço conjugado pelas famílias, amigos, treinadores abnegados, rompendo assim os limites de seus corpos e mentes e muitas barreiras socioeconômicas.

Alguns recebem o Bolsa Atleta, um incentivo insuficiente ao começar uma carreira.

Olimpíadas representam um momento importante na vida dos jovens, por oferecerem um ambiente de socialização, conhecimento mútuo, troca de experiência e ampliação da amizade e solidariedade internacional.

E Esperança!

Estas olimpíadas ficaram marcadas para os brasileiros pela participação da Região Nordeste, a mais pobre do país, e pela presença das mulheres nos pódios, obtendo medalhas de ouro, prata e bronze. Foram 07 medalhas de ouro, 06 de prata e 08 de bronze.

Só para a Bahia foram 03 medalhas de ouro para Isaquias Queiroz, Herbert Conceição e Ana Marcela Cunha, símbolos de muita superação, coragem e entusiasmo, características próprias da juventude.

Isaquias Queiroz, filho da cidade de Itaitaba, há 170 Km de Salvador, tem 27 anos, ganhou a medalha competindo individualmente na prova dos mil metros de canoagem. Nascido em família pobre, sobreviveu a dois acidentes, um aos três anos quando teve sobre seu corpo uma panela com água fervente, e outro ao cair de uma árvore, tendo que subtrair um rim por conta de hemorragia interna aos dez anos. Começou na canoagem aos dez anos, participando de um projeto social em sua cidade. “Perdeu o pai muito cedo e a mãe criava dez filhos. O esporte acabou tendo um papel muito forte na infância e na adolescência desse atleta. Izaquias é um dos atletas que está estreando em Olimpíadas”. (Jornal Tribuna da Região)

Herbert da Conceição ficou com o ouro do boxe Opugilista é considerado o futuro do Brasil no boxe, mas já está trilhando um caminho de respeito no cenário internacional. Tem 23 anos e é especialista na categoria 75 quilos. “Acho que a Bahia tem um dendê. Baiano tem dendê no sangue”, brincou Herbert. “O boxe é uma modalidade muito tradicional e popular em Salvador. Então, os moleques já começam no gingado ali desde criança e os projetos sociais que existem na cidade conseguem formar grandes campeões, como foi o meu caso”, lembrou o boxeador, que começou no projeto Campeões da Vida”. (Rede do Esporte)

Ana Marcela Cunha nasceu em Salvador, tem 29 anos e tentava a medalha olímpica desde Pequim, em 2008, aos 16 anos. De lá até aqui ganhou muitas competições internacionais, é nadadora na categoria mar aberto, tendo conquistado 11 pódios e já foi eleita seis vezes a melhor nadadora do mundo em maratonas aquáticas.

No entanto, em 2017, Ana Marcela descobriu uma doença autoimune que colocou em risco a preparação do ciclo olímpico para Tóquio. A baiana sofria com uma doença que destruía a produção de plaquetas sanguíneas e precisou fazer uma cirurgia para retirar o baço e seguir saudável.

“Ana Marcela Cunha, que namora Maria Clara Fontoura, ainda exaltou o desempenho das mulheres brasileiras nas Olimpíadas. “Mulher pode ser o que ela quiser, onde quiser e na hora que quiser. O tanto que a gente vem recebendo de ajuda e igualdade representa muito para o desempenho do Brasil”, comemorou. (Delas)

Com poucas décadas de existência, o skate, novato nas olimpíadas, tornou-se um atrativo em Tóquio, com seus participantes jovens de calças largas, cabelos ao vento, gingado e acrobacias marcantes.

Com esses atributos, a nordestina de apenas 13 anos de idade, Rayssa Leal, também conhecida como fadinha, conquistou sua medalha de prata. Fadinha porque teve um vídeo divulgado em 2015 pelo californiano veterano Tony Hawk, maior estrela do skate, hoje com 53 anos, quando praticava o esporte nas calçadas de sua cidade Imperatriz, no Maranhão, vestida de fada.

Segundo o professor da Universidade Regional de Blumenau, Leonardo Brandão, a primeira pista de Skate no Brasil surgiu em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, em 1976, e foi também a primeira da América Latina, e está lá até hoje.

Rayssa vem de família pobre, como a grande maioria das famílias do Maranhão, e é beneficiária do programa Bolsa Família – informação divulgada pelo economista Pedro Fernando Nery, no Jornal O Estado de S. Paulo, com base no Portal da Transparência do Governo Federal.

O surfista Ítalo Ferreira, natural de Bahia Formosa, Rio Grande do Norte, iniciou suas atividades com o surf aos oito anos de idade, no mar do quintal de sua casa, juntamente com outros amigos crianças. A primeira prancha chegou aos dez anos de idade, após a primeira vitória em campeonato, sendo que até ali praticava o esporte numa tampa de uma caixa grande de isopor, usada pela família para guardar os peixes que estariam à venda nos restaurantes da praia.

Fora do Nordeste, entre outros, se destaca Rebeca Andrade, chegando com seu baile de favela, vencedora com prata e ouro, primeira ginasta brasileira medalha de ouro em Olimpíada, que iniciou sua vida na ginástica artística num programa social no Ginásio Bonifácio Cardoso, de Guarulhos, onde treinou durante cinco anos. Ganhou o apelido de Daianinha, em referência à Daiane dos Santos, ginasta vencedora com nove medalhas de ouro em grandes competições.

Nascida numa família de oito filhos, filha de Dona Rosa Rodrigues, empregada doméstica, logo compreendeu que o caminho era longo, mas cheio de apoios de professores, treinadores, conforme relato: “No começo, eu trabalhava como empregada doméstica, então estava tudo certo. Mas teve uma época que as contas apertaram, e ela teve que parar de treinar por falta de condições financeiras. Mas quando retornou, não parou mais. Ia de ônibus e, quando não tinha dinheiro, ia a pé, mesmo com a distância do local do treino cerca de 2 horas a pé… mas estou muito feliz, muito orgulhosa pela minha filha”. (Mídia Nacional)

Quantas histórias de desafios, comoventes expressam o sentimento de resiliência e vitória. Mas poderia também ser diferente, num país como o nosso Brasil que tem cerca de 85 milhões de crianças e jovens de cinco a 29 anos, conforme dados do IBGE, e merecem toda atenção e prioridade nas políticas de educação e esporte.

A sociedade deve exigir dos governantes uma educação pública com qualidade, professores bem formados e uma política de desportos, o que exigiria uma escola de ensino básico em tempo integral com espaços esportivos capazes de promover o desenvolvimento do aluno em suas múltiplas dimensões. Nada diferente do que está na nossa Constituição. Além do mais, uma discussão muito mais importante do que a que se faz, gastando energia e tempo sobre o voto impresso.

Crianças e jovens são a prioridade nacional, não podem ser deixadas à mercê de vontades políticas ardilosas que beneficiam grupos privilegiados com interesses familiares.

Vejamos o caso da internet nas escolas, instrumento fundamental para aprendizagem dos alunos. O projeto patina na esplanada dos ministérios, cumprindo a burocracia dos vetos, sem que se perceba o que acontece com a incapacidade das escolas para viabilizar o ensino online.

Nestes tempos difíceis, não nos esqueçamos que poderemos ter a nossa juventude perdida no tempo, que não espera pelas elucubrações da politicagem.

Fortalecendo a juventude estaremos de fato fortalecendo a democracia.

Todos estamos cansados… vamos nos unir para corrigir o rumo dessas histórias!

*Mirtes Cordeiro é pedagoga. Escreve às segundas-feiras.

Foto destaque: cnnbrasil.com.br