TJPE manda empresa de transporte custear tratamento de estudante que teve rosto desfigurado em acidente
Redação
Em 13.08.2021
Por unanimidade, a 6ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) decidiu que a empresa de transporte Viação Progresso está obrigada a custear o tratamento de saúde da estudante Kedydja Cibelly Borges dos Santos, de 20 anos, vítima de um acidente de ônibus ocorrido em 16 de novembro de 2020, em Ouricuri, no sertão pernambucano. A estudante de Engenharia de Produção da Universidade do Vale do São Francisco (Univasf), localizada em Salgueiro, sofreu afundamento da face, ficou sem parte da pele da testa e de uma das sobrancelhas, perdeu a cartilagem do nariz, o que dificulta a sua respiração, e teve comprometido o campo de visão do olho direito.
Kedydja Cibelly Borges dos Santos precisa continuar com acompanhamento psiquiátrico, por enfrentar quadro depressivo, e fazer novos procedimentos cirúrgicos em São Paulo, destinados a corrigir as cicatrizes no rosto causadas pelo acidente. O ônibus capotou e a estudante se desprendeu do cinto de segurança. Seu rosto foi arrastado no chão e ela ficou debaixo do veículo por cerca de dez minutos.
“Essa decisão do Tribunal de Justiça consolidou a obrigação que a empresa tem de indenizar a Kedydja com o custeio do seu tratamento”, analisou o advogado de defesa da estudante, Eduardo Lemos Barbosa. Com isso, a 6ª Câmara Cível do TJPE ratificou a liminar do desembargador Fernando Antônio Araújo Martins, da 6ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça, que em maio passado concedeu decisão em caráter provisório ao recurso interposto pelo advogado da vítima para que a estudante iniciasse tratamento através de consultas para avaliação médica e depois concedeu autorização para o primeiro procedimento cirúrgico, realizado em junho. Em abril, esse direito havia sido negado na primeira instância.
A decisão do TJPE encheu Kedydja de esperança de se ver livre de boa parte das cicatrizes no seu rosto.“Espero retornar para São Paulo no próximo mês para fazer novos procedimentos e que eu não corra mais o risco de ter meu tratamento interrompido”, disse a estudante, revelando enfrentar quadro depressivo. O advogado Eduardo Lemos Barbosa adiantou que além do seguimento do processo na esfera cível, o caso se desdobrará na esfera criminal, para que os responsáveis pela empresa de ônibus sejam responsabilizados “por omissão de socorro à vítima, desde o dia do acidente.”
No mês de junho a estudante voltou para o município pernambucano de Salgueiro, onde reside, depois de se submeter a sete horas de uma cirurgia de rinoplastia, correção de cicatriz e enxerto de gordura na face, numa clínica particular em São Paulo. Kedydja sonha agora em apagar as cicatrizes do grave acidente de ônibus que foi vítima no transcurso entre Piauí e Salgueiro (PE). “Consegui me ver de novo no espelho, depois da retirada dos pontos”, contou, mostrando o caco de vidro que foi retirado durante a rinoplastia.
A cirurgia ocorreu exatamente sete meses depois da madrugada do acidente que mudou a rotina da estudante, que voltava de uma viagem a Picos, cidade do Piauí onde nasceu, para o município onde mora, Salgueiro, no sertão de Pernambuco. A estudante, que cursa Engenharia de Produção na Univasf, decidiu deixar os pais em Picos para onde havia viajado para votar e retornar para Salgueiro. A menos de duas horas de chegar em casa o ônibus virou e todos os passageiros sofreram ferimentos, mas a situação de Kedydja foi a mais grave.
DORES EMOCIONAIS
A jornada de Kedydja Cibelly para chegar a São Paulo para ser acompanhada por especialistas não foi fácil. Às feridas se estenderam as dores emocionais, gerando vergonha de sair de casa, baixa autoestima e depressão. “Entrei em depressão depois de escutar que não tinha solução para o meu caso. Por duas vezes eu pensei seriamente em desistir de viver quando me olhei no espelho do banheiro. Muito difícil para mim conviver com essas cicatrizes”, ressaltou a jovem, que recebe acompanhamento psiquiátrico desde abril.
A estudante é filha de uma pensionista e de um motorista. O seu pai está desempregado há três anos e a família não tem condições de bancar o tratamento. Em 2020, após a morte da sua avó, em Picos, em julho do ano passado, seus pais migraram para Petrolina, em busca de oportunidades. Não conseguiram e acabaram voltando temporariamente para Picos, no período das eleições.
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