Agosto, sexta-feira, 13
Jénerson Alves*
Em 13.08.2021
Era uma sexta-feira, 13 de agosto. Talvez por algum abalo mental ou por excesso de literatura, ele estava estranhamente amedrontado. Acordou-se dizendo que sonhara “um sonho ruim”.
– Se é sonho ruim, não é sonho, menino, é pesadelo! – a mãe o disse, sem muita paciência.
Do alto dos seus treze anos, Esteves apenas pensava em contos fantásticos e histórias macabras. Seguia canais de mistério no YouTube. Devorava livros de autores como Stephen King, Edgar Allan Poe e H. P. Lovecraft. Achava-se meio iluminado como o Danny (ou apenas tentava tergiversar ante o fato de ter um pai meio Jack Torrance)… Via vultos, ouvia vozes, temia monstros, fantasmas, espíritos e demônios… Não raramente, acordava-se suado. Dizia-se visitado por Cthulhu… Ou por Jason… Conhecia em detalhes as histórias de Freddy Krueger…
Mas e o sonho?
A mãe não perguntou. Ele também não contou…
Foi algo bem confuso. Ele estava saindo da escola, quando foi interceptado por um homem de preto dizendo que ele era um filho do fogo e deveria estar pronto para, em breve, receber sua missão. De repente, viu-se na festa de fim de ano da escola. Estava feliz, acompanhado da Marcela, a gostosa do nono ano – dois anos à frente dele. Na frente do colégio, ele pediu um beijo de despedida. Ela disse que não. “Eu quero adrenochrome”, respondeu, com uma gargalhada sinistra. Foi aí que acordou-se espantado. O sol já beijava o quarto através da cortina entreaberta. Sua cabeça, porém, permanecia escura – repleta de Belzebu, Lilith, Asterote, Asmodeu, Apolion, além de toda sorte de daemons e bestas-feras…
……
Sozinho no banheiro, aos prantos, vê seu reflexo no espelho. Ele tem medo. Medo de monstros. Medo de lendas. Medo do desconhecido. Medo da vida.
Olha mais uma vez o seu rosto no espelho. E vem uma epifania.
– Agora eu sei. O maior monstro que existe não está nos livros nem nos filmes! – brada.
Fitando os próprios olhos, no minúsculo espelho, diz, corajosamente, para si mesmo:
– Você é o seu próprio monstro! Você pode se destruir, matar os seus próprios sonhos, roubar a alegria da própria vida. Você é o seu próprio mal.
E, balbuciando, suplica:
– Faça o bem! Ame a si mesmo. Ame o próximo! Veja a vida com o coração aberto!
…….
Não sei muito o que houve com o Esteves… dizem que ele continua amando literatura e escreve para um blog às sextas-feiras…
Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel. Escreve às sextas-feiras.
Foto destaque: Pexels/Pixabay.
Foto destaque: FJBush/Pixabay