Precisamos de histórias

Por

Jénerson Alves*

Em 20.08.2021

Gladir Cabral, professor de Letras da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc), já afirmou: “a literatura não é um artigo de luxo, é uma necessidade do ser humano, é inclusive constitutivo da sua condição humana, elemento fundamental da sua formação”. Concordo plenamente com cada palavra. Nós precisamos de histórias.

Criamos a nossa biografia a partir dos nossos atos, mas também das nossas memórias. A narrativa que fazemos em nossa cabeça sintetiza cada passo dado. Os versos de Legião Urbana descrevem um pouco desse processo: “Todos os dias / antes de dormir / lembro e esqueço / como foi o dia”.

Fábulas, contos, crônicas, poemas… são elementos constitutivos do imaginário. A fantasia explica a realidade. Bruxas, fadas, duendes, príncipes, princesas, vilões e mocinhos… são arquétipos que auxiliam na nossa compreensão de mundo. É como Chesterton disse: “Contos de fada não dizem às crianças que dragões existem. Crianças já sabem que dragões existem. Contos de fada dizem às crianças que dragões podem ser mortos”.

Mesmo adultos, precisamos de histórias. Às vezes, substituímos o livro pelos filmes, séries, novelas… não é errado, isso indica o quanto somos movidos a histórias. Atualmente, muitos preferem as narrativas ideológicas, alimentadas por noticiários, por vezes não imparciais, de determinados veículos de comunicação, e põem tais episódios como parte de suas vidas… não sou capaz de julgar tal ato, entretanto me empenho em trilhar outra via…

Precisamos de histórias. Precisamos construir nossa história. Precisamos nos enxergar como pertencentes e participantes de uma História Universal – que está presente nos registros dos historiadores, mas sobretudo na memória coletiva. O Apóstolo Paulo afirmou que somos “poiema” de Deus. Que possamos escrever e imprimir em nosso coração e em nossa vida uma história de beleza e bondade, para ser lida nos livros do céu (e, quiçá, da terra).

Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel. Escreve às sextas-feiras.

Foto destaque: reprodução do quadro The House Maid (1910), de William McGregor Paxton