O sonho do professor

Por

Jénerson Alves*

Em 15.10.2021

O relógio marcava 02h quando ele concluiu a correção das atividades. Ainda era o terceiro bimestre letivo, mas ele já estava ‘morto’. Teria de se acordar logo a seguir, às 06h. Deitou-se pensando em aproveitar ao máximo as poucas horas de sono.

“Preciso de férias. Ou melhor, me aposentar”. Foi o pensamento que pairou em sua mente segundos antes de cerrar os olhos.

No sonho, sentiu o cheiro do sanduíche que somente a sua mãe sabia preparar. Ouviu a voz dela dizendo:

– Acorda, que o sol já raiou!

E o seu pai complementando:

– Os passarinhos não devem nada a ninguém e a esta hora já estão acordados e cantando!

Sorrindo, os dois recitavam um versículo, fazendo coro:

– “Retém a instrução e não a largues; guarda-a porque ela é a tua vida” (Pv 4:13)

Ele era aquele garotinho de 11 anos, que preguiçosamente se vestia para ir à escola. Tímido, todos os dias cruzava os portões do estabelecimento de ensino sentindo um frio na barriga. Bastava sentar na carteira e começar a aula para perceber o descortinar de um mundo novo. Deslumbrava-se com o conhecimento e a candura da professora; divertia-se com as dúvidas dos colegas; já encantava-se com o aroma das meninas… A escola era pequena; mas o coração, gigantesco. E parecia ser o mundo inteiro.

x-x-x-x

De repente, o despertador tocou. Porém, tocou com um som diferente – não mais o chamando a uma rotina entediante. O professor se levantou e seguiu para a sua missão, lembrando-se que não iria “dar aula”. Estava seguindo para alimentar sonhos, inspirar vidas, imprimir marcas, construir um legado. O garotinho dentro dele sorria, ávido por conhecimento, assim como as crianças que o aguardavam dentro da sala de aula.

*Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel. Escreve às sextas-feiras.

Foto destaque: Pexels/Pixabay