Seja 2022 o Ano da Esperança

Por

Mirtes Cordeiro*

Em 03.01.2022

Meia noite. Fim
de um ano, início
de outro. Olho o céu:
nenhum indício.

Olho o céu:
o abismo vence o
olhar. O mesmo
espantoso silêncio
da Via-Láctea feito
um ectoplasma
sobre a minha cabeça:
nada ali indica
que um ano novo começa.

E não começa
nem no céu nem no chão
do planeta:
começa no coração.

Começa como a esperança
de vida melhor
que entre os astros
não se escuta
nem se vê
nem pode haver:
que isso é coisa de homem
esse bicho
estelar
que sonha
(e luta)

(Ferreira Gullar)

Então, começou o Ano que chamamos de Novo Ano. É preciso que nos afastemos dos males que aconteceram nos últimos três anos, quando fomos assombrados por duas coisas ruins: a pandemia e o governo Bolsonaro, que embora tenha sido eleito democraticamente por 57 milhões de brasileiros – sendo que 31 milhões se abstiveram, 2 milhões votaram branco e 8 milhões votaram nulo -, foi escolhido na verdade por cerca de 39% do eleitorado.

No entanto, governa para poucos.

Foi muito difícil para a maioria dos brasileiros enfrentar a crueldade da pandemia, expressa principalmente em 619 mil mortos até o último dia do ano que passou. Também nas maluquices danosas do governo no desmonte das políticas públicas e, sobretudo, na condução das diretrizes que movem a economia no país.

Em fevereiro de 2021 alertei em artigo: “Não podemos deixar que a sandice de um governante impeça que o país não disponibilize a vacina para todos, porque se trata de um bem que proporciona a preservação da vida, que é felicidade que não deve ser desperdiçada.” Após um ano, o presidente insiste em negar vacina, agora às crianças, mesmo com a aprovação, a palavra maior da ANVISA.

Não podemos mais ter tolerância com esse tipo de sandice.

O ano que começa deve ser o Ano da Esperança. Um amigo, José Arlindo Soares, me mandou a seguinte mensagem: “Que tenhamos mais forças para somar as esperanças de um ano mais promissor.” Imagino que somos muitos pensando em redobrar o empenho para preparar o nosso futuro com data marcada para 2023.

A Esperança, sozinha, não muda o rumo das coisas. Necessitamos que ela seja incorporada ao sentido das nossas vidas, para que não nos afastemos do caminho que precisamos pavimentar para que em 2023 possamos recomeçar nossas vidas sem ameaças, sem desafios ao autoritarismo, sem ameaças de golpes e cuidando melhor do fortalecimento democrático.

No Chile, nosso quase vizinho, o seu povo vem dando o exemplo para o mundo e, como diz o proverbio popular, “não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe.” De modo que no cabe trabalhar para que o bem logo aconteça e permaneça por várias gerações.

O ano que começa inaugura um novo momento, um processo eleitoral que na verdade já começou antes mesmo de se instalar o orçamento secreto e o fundo eleitoral.

Enfrentaremos as eleições para escolher o presidente da República, senadores, deputados federais, governadores dos estados e deputados estaduais. A maioria dos atuais representantes e dos novos – reeleitos e a serem eleitos – ancorados nos atuais com bastante dinheiro público, através de emendas parlamentares que podem chamar de suas e outras secretas, decorrentes do novo orçamento, também secreto, vergonha amparada  pelo Supremo Tribunal Federal (STF), considerando os apelos do Congresso Nacional e desconsiderando as necessidades vivenciadas pela população.

Do lado da população, inflação alta, carestia sobretudo nos alimentos e bens primários, famílias com fome, sem emprego, sem moradia, com saúde precária, vítimas do tráfico de drogas, violência e criminalidade. Educação pública com escolas em condições precárias, sem professores e conteúdos curriculares indefinidos, o que resulta na baixa aprendizagem dos alunos.

Para termos um futuro melhor precisaremos aproveitar muito bem o nosso voto que colocaremos nas urnas em outubro em 2022.

Imprescindível é direcionar nossas esperanças para uma agenda econômica e social que beneficie a população brasileira na sua totalidde.

“Não entendo a existência humana e a necessária luta para fazê-la melhor, sem esperança e sem sonho. A esperança é necessidade ontológica”. (Paulo Freire in Pedagogia da Esperança, pagina 5/1997)

Para isso temos o conhecimento. Basta acrescentar nossa vontade política.

*Mirtes Cordeiro é pedagoga. Escreve às segundas-feiras.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do blog Falou e Disse.