Poderes desafinados

Por

Carlos Sinésio*

Em 30.06.2020

Em uma campeonato de futebol competitivo, para que um time seja consagrado vencedor é preciso ter uma ótima defesa, um meio de campo criativo e combatente e um ataque eficiente, fulminante, que conclua bem as jogadas as quais acabem com a bola no fundo das redes. Sem esquecer que divergências internas entre jogadores e equipe técnica devem ser superadas fora das quatro linhas, pois durante o jogo todos os integrantes devem estar afinados como uma bela orquestra. Em tese, essas são prerrogativas que fazem uma equipe ser campeã.

Para que um país democrático trilhe bem os caminhos do desenvolvimento, faz-se necessário que os seus poderes institucionalmente constituídos também se entendam, cumpram corretamente suas atribuições previstas na Constituição. As normais discordâncias entre os poderes ou seus membros devem ser superadas ou relegadas, pois só assim todos poderão ser beneficiados e trabalhar pelo bem geral da nação, justificando os salários e as mordomias a que têm (ou não) direito.

Infelizmente, não tem sido isso que estamos observando no Brasil nos últimos tempos, onde as turbulências são muito constantes. Claro que discordâncias são normais em uma democracia e fazem parte do processo, são mesmo salutares. Mas tudo neste mundo tem limite.

Entretanto, as desavenças entre os poderes Executivo (Presidência e equipe), Legislativo (Câmara dos Deputados e Senado) e Judiciário (Supremo Tribunal Federal e outras cortes) acontecem com a frequência de quem se alimenta regularmente pelo menos três vezes ao dia. São acusações de lado a lado, muitas vezes por picuinhas. Outras tantas porque os atores envolvidos neste lamentável cenário defendem interesses de grupos políticos e econômicos ou – o que é ainda mais grave – seus próprios interesses.

É arrepiante ver integrantes do Executivo desrespeitarem as leis e a sociedade como tem ocorrido com tanta repetição. É triste saber que membros do Legislativo fazem qualquer acordo para apoiar o Executivo, desde que, em troca, recebam cargos ou propinas. É lamentável assistir integrantes de alguma instância do Judiciário se contradizerem em decisões judiciais apenas para atender a suas conveniências.

Os poderes da República devem ter consciência do seu verdadeiro papel constitucional. Os seus integrantes precisam cumprir os juramentos que fizeram, ao assumirem cargos públicos tão relevantes e que decidem sobre a vida de toda a Nação. Mas tudo isso, caro leitor, só poderemos resolver votando bem. E esse processo pode começar pela base, com as eleições municipais que se avizinham, por exemplo.

Se não votarmos bem e em candidatos da ficha limpa, honestos, reconhecidamente decentes, os avanços rumo ao desenvolvimento, no seu sentido mais amplo, se vierem, serão sempre a conta-gotas. E isso não nos interessa, pois o País tem pressa. Pense muito bem nisso.

*Carlos Sinésio é jornalista. Escreve às terças-feiras

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do blog Falou e Disse.